O PRÉMIO NOBEL DA PAZ
PARA EDWARD SNOWDEN?
Num mundo em que centenas de milhões de pessoas partilham as mesmas notícias, há milhares que pensam de modo
aproximado. Cada vez resta menos espaço para a originalidade.
Há menos de 12 horas,
comuniquei a uma das minhas filhas que ia escrever e publicar no meu blogue
alguns artigos sobre as ameaças à privacidade nos dias que correm. O título
genérico iria ser “O Prémio Nobel da Paz para Eduard Snowden?”
Hoje, consultei a
Wikipedia e verifiquei que alguém se antecipara. O professor sueco de
Sociologia Stefan Svallfors, em carta dirigida ao Comité Nobel norueguês,
apresentou este ano a candidatura de Snowden, afirmando que os seus feitos eram
heroicos e tinham implicado grandes sacrifícios pessoais. O seu exemplo poderia
incentivar outras pessoas a denunciarem atos contrários aos direitos
humanos.
A minha falta de
originalidade não termina aqui. Julian Assange, fundador da WikiLeaks, e
Bradley Manning, soldado dos EUA que divulgou documentos secretos do exército,
haviam sido propostos para o mesmo Prémio em 2011 e 2012.
Edward Joseph Snowden é um
norte-americano de 30 anos que trabalhou como administrador de sistemas
informáticos para uma empresa subcontratada pela Agência de Segurança Nacional
do seu país. Ganhava 122 mil dólares por ano, o que parece suficiente para
assegurar uma vida confortável. Não seria o dinheiro que o motivaria.
Em maio de 2013 revelou
aos jornais "The Guardian" e "The Washington Post" informações altamente
confidenciais sobre o programa PRISM de vigilância eletrónica de comunicações, utilizado pelos governos dos Estados Unidos da América e do Reino Unido. O programa
monitoriza conversas telefónicas e mensagens de e-mail de cidadãos dos EUA de
outros países, um pouco por todo o mundo. Logo a seguir, Snowden fugiu do Havai, onde
trabalhava, para Hong Kong. Pediu asilo político a uma vintena de países. Teve
resposta positiva da Venezuela e da Bolívia, mas permanece em território russo,
depois de ter passado mais de um mês na área de trânsito do aeroporto de
Moscovo. O governo americano acusa-o de espionagem e de roubo e divulgação de
segredos de estado.
As suas inconfidências
desencadearam nos aliados dos EUA uma série de reações de desconforto e
irritação. François Hollande, Dilma Rousseff e Angela Merkel exprimiram
publicamente as suas preocupações e pediram explicações ao governo
norte-americano.
Snowden não terá grande
vontade de deixar Moscovo. Em agosto de 2013, Bradley Edward Manning, agora
Chelsea Elizabeth Manning, foi condenado a 35 anos de prisão por ter confiado à
WikiLeaks informações referentes à atuação das tropas americanas no Iraque. Os
guardiões do puritanismo ianque acusam-no(?a) de violar a sagrada confiança que
merecem os assuntos nacionais.
Não conheço as motivações
de Snowden nem de Manning. Poderão ter sido diferentes. Há muitas razões
capazes de virar um homem contra a instituição onde trabalha. Poderão estar em
causa a necessidade moral de publicitar procedimentos que se consideram
injustos, o desejo de vingança contra um chefe ou contra a suposta injustiça na
apreciação do trabalho feito, o ciúme, a vontade de obter compensações
materiais, ou até perturbações de comportamento induzidas por afeções
psiquiátricas.
Julgo que os protestos dos dirigentes políticos se destinam essencialmente a apaziguar os eleitores. Angela Merckel e
Dilma Roussef não são donzelas púdicas que tenham sentido agora, pela primeira
vez, a mão insidiosa do amigo americano debaixo das suas saias. Os seus países
dispõem, como quase todos os do mundo, de serviços de informações sofisticados.
Quem com ferros mata…
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