O TÚMULO DE CAMÕES
Já se encontra nas
livrarias o meu livro mais recente. Chama-se “O Túmulo de Camões” e decorre no
século XXI. Numa época em que o ego dos portugueses está diminuído, convém
trazer à memória as glórias antigas.
Luís de Camões e
António de Faria terão sido contemporâneos no Oriente durante alguns anos. Que
se saiba, nunca se cruzaram. O autor fá-los encontrar em Lisboa, no fim das
vidas, pela mão de uma jovem professora de História obcecada com a origem das
ossadas depositadas no túmulo do poeta.
O Túmulo de
Camões cruza Os Lusíadas com a Peregrinação.
Luís de Camões ilustra uma das faces da epopeia. Glorificou
a Expansão Portuguesa. Cantou os feitos heroicos, a honra e a coragem. Fernão
Mendes Pinto foi mais adiante. Pôs a descoberto o lado escuro da navegação e da
conquista. Retratou os seus compatriotas tal como eram, com as qualidades e os
defeitos ampliados pela exaltação da época.
António de
Faria, cuja personalidade domina vários capítulos da Peregrinação, terá sido homem feroz e temido, pirata e carniceiro,
miserável num dia, podre de rico na manhã seguinte, sem nunca gozar um tael dos
muitos que roubou. Chegou, com outros como ele, a fazer parte dos pesadelos dos
povos da região.
Ao embarcar para o Oriente, Camões levava na
bagagem o conhecimento da literatura greco-romana. Valorizou-se, no contacto
com povos diferentes e atingiu um sentimento de pertença universal. Se tivesse
permanecido em Lisboa, não teria podido aliar ao seu talento a vivência de
navegador e de soldado que humanizou Os
Lusíadas. As navegações grandes alargaram-lhe os horizontes culturais e as dificuldades
que experimentou no corpo enriqueceram-lhe a alma.
Os conquistadores foram sempre odiados. Todos os
impérios foram do mal. Aproveitando a superioridade em técnica de navegação e
em peças de artilharia, os marinheiros portugueses, que nunca chegaram a ser em
grande número, instalaram-se em reinos distantes. Depois de passarem além da
Tapobrana, saquearam e mataram. Afonso de Albuquerque foi um génio da guerra no
mar. Com uma centena de navios e, quanto muito, dois milhares de homens sob as
suas ordens, fechou as portas do Índico para o Pacífico, o Mar Vermelho e o
Golfo Pérsico. Apenas os portugueses conheciam a rota que permitia dobrar o
Cabo da Boa Esperança. Quem pretendia fazer comércio marítimo com os países
ribeirinhos dum Oceano inteiro, era obrigado a pagar portagem aos cofres de
Lisboa.
Os Lusíadas glorificam a descoberta, que está na
origem do colonialismo. Ingleses, holandeses e franceses seguiram, mais tarde,
as pegadas dos navegadores ibéricos. Os encontros interculturais redundaram em
violência, com vantagem para quem dispunha de melhores armas. Seguiram-se
vários séculos de opressão para povos de três continentes. O mito da supremacia
branca e cristã foi imposto nas colónias europeias, a par do racismo. Durante
muito tempo, Deus foi branco.
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