SINOPSE DA HISTÓRIA DA COLONIZAÇÃO
DE ANGOLA
III
MOÇÂMEDES E SÁ DA BANDEIRA
A OCUPAÇÃO DO INTERIOR DE ANGOLA PELOS PORTUGUESES.
Em Angola, a
presença portuguesa era antiga nas cidades costeiras, sobretudo em Luanda e Benguela,
e em algumas regiões vizinhas. Dos grandes espaços interiores e das gentes que os
habitavam, pouco se sabia.
A vila de
Moçâmedes foi construída junto à praia, de acordo com um plano simples e
geométrico. Quatro ruas paralelas entre si eram cortadas por travessas e
formavam quarteirões regulares. Havia iluminação a petróleo. As casas, de um só
piso, tinham quase todas quintal.
A povoação
teve origem num presídio para degredados. O clima era benigno e havia terras
férteis. Existiam no Brasil nesse tempo, como noutros, portugueses na miséria.
Viviam-se tempos de agitação social e a colónia lusitana de Pernambuco era
hostilizada. O governo de Lisboa precisava de brancos em Angola e
proporcionou-lhes meios de transporte.
A barca
“Tentativa Feliz”, protegida pelo brigue “Douro”, fundeou em Moçâmedes, em
agosto de 1849, trazendo 180 portugueses.
A
instalação dos colonos processou-se com alguma dificuldade. Mesmo assim, como a
crise social em Pernambuco se agudizava, em novembro de 1850 desembarcaram mais
107 emigrantes. Moçâmedes foi desenvolvida por gente de torna-viagem.
Os que vieram do Brasil aproveitaram os terrenos de aluvião das margens dos rios Bero e
Giraúl. Giraúl quer dizer “fim do caminho”. Eram terras férteis mas escassas.
Não dispondo de mais espaços de cultura, desenvolveram o comércio e a pesca. A
vila foi progredindo.
Alguns negociantes exportavam gado para longe. Não o criavam, porque não havia pastos na região. Recebiam-no
dos negociantes que o compravam no interior.
Em Luanda e Benguela, os descendentes dos escravos constituíam o grosso da população negra urbana. Desenraizados e esquecidos das antigas tradições, falavam um português modificado e vestiam à europeia. Em Moçâmedes, terra fundada após a abolição oficial da escravatura, eram poucos os filhos dos libertos.
Em Luanda e Benguela, os descendentes dos escravos constituíam o grosso da população negra urbana. Desenraizados e esquecidos das antigas tradições, falavam um português modificado e vestiam à europeia. Em Moçâmedes, terra fundada após a abolição oficial da escravatura, eram poucos os filhos dos libertos.
Ali, chamavam
funantes aos que andavam pelo mato a comerciar. Aquela gente ia a toda a parte.
Deixava as cidades costeiras e subia as margens dos rios secos. Por vezes,
fixava-se. Havia povoações espalhadas por uma grande área: Munhino, Curoca,
Bibala, Bruco, Tchivinguiro, Humpata, Huíla, Chibia. Um grupo de pescadores
algarvios tinha-se estabelecido em Porto Alexandre, a sul, na costa deserta.
Bernardo de Sá, Marquês de Sá da Bandeira
Em 1836, Em Portugal,
a vitória setembrista levou ao governo, entre outros, Passos Manuel e Bernardo
de Sá Nogueira, visconde e mais tarde marquês de Sá da Bandeira. Foi o visconde quem assinou, em
dezembro desse ano, o decreto que punha fim ao tráfico de escravos. Foi também
o responsável pela elaboração de um projeto de desenvolvimento dos territórios
coloniais. Pretendia-se que as colónias africanas abastecessem a “metrópole”
com os seus produtos, em troca dos têxteis e dos vinhos portugueses. Cabia-lhes
substituir o Brasil, que se tornara independente.
Entre 1870 e 1890
alguns países europeus deitaram olhares cobiçosos ao continente negro. Queriam
garantir o fornecimento de matérias-primas e conseguir mercados para a produção
industrial. Estas ambições iam contra os direitos que Portugal julgava seus,
por prioridade nas descobertas.
Em 1877, o
madeirense D. José da Câmara Leme era aspirante de marinha. Trabalhara em
Luanda, Benguela e Moçâmedes. Sabia que as colónias de África eram invejadas
por ingleses e alemães. Ou se povoavam, ou se ficava sem elas.
Escreveu ao
Governador-geral de Angola, Ferreira do Amaral, expondo-lhe as suas ideias. Os
portugueses mais à mão eram os da ilha da Madeira. A população crescera e a
terra não chegava para todos. Havia muita gente disposta a partir em busca de
vida melhor.
Ferreira do Amaral
apadrinhou o plano e apresentou-o ao governo de Lisboa. O ministro do Ultramar
era quem podia decidir.
A resposta à iniciativa do Condutor de Obras
Públicas foi relativamente rápida. Câmara Leme foi nomeado Diretor da nova
Colónia e, paralelamente, encarregado de construir dois troços de estrada para
ligar o Lubango à Humpata e à carreteira que ia da Chela à Huíla.
Em 1885, a
Conferência de Berlim instituiu o princípio da ocupação efetiva dos territórios
como fonte de soberania. Tocou em Lisboa a sineta de alarme. A emigração para
África ganhou prioridade.
A bacia do Lubango situa-se a uma altitude de 1.800
metros e cobre uma área superior a 1.000 hectares. É rodeado por uma cadeia de serras
que se abre apenas a leste. É por ali que entra o vento e sai o rio.
Ponta do Lubango, ou Ponta da Chela
Quem olha em volta, pela primeira vez, fixa os olhos
no sul. A Ponta do Lubango interrompe bruscamente a serra do Mucoto e ganha
para sempre espaço nos sonhos.
Há pequenos ribeiros que levam água todo o ano.
Juntam-se no lugar da Machiqueira, ali bem perto, para formar o rio Caculovar,
que vai desaguar no Cunene.
A caravana que transportava os emigrantes alcançou uma extensa colina no meio da
bacia e fez alto. As carroças foram descarregadas. Na manhã seguinte, os bóeres
voltaram com os carros, serra abaixo, para buscar a gente que ficara.
Os madeirenses deitaram logo mãos à obra. Os
primeiros trabalhos foram coletivos. Na margem direita do rio Caculovar
abriu-se uma clareira onde foram construídos dois grandes barracões de
pau-a-pique, um para os homens e o outro para as mulheres e crianças.
Edificaram-se, em acampamento separado, cubatas para instalar o diretor da
Colónia, o médico, a secretaria provisória e a ambulância.
Fonte: Os fragmentos deste texto foram retirados do romance "Os Colonos" (António Trabulo, Esfera do Caos, Lisboa, 2007) e reagrupados.
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