Pelos sessenta anos, publiquei o meu primeiro livro. Chamei-lhe MULEMBA, CONTOS DE ÁFRICA (Editora Europress, 2003). Contém algumas das páginas que, até hoje, mais gostei de escrever. Contos como "Máscaras" encontram-se entre os texto que revisito com alegria.
Seguiu-se
NO TEMPO DO CAPARANDANDA (Europress, 2004).
É uma colectânea de contos tradicionais angolanos que seleccionei e adaptei. Escolhi, entre aqueles a que tive acesso, os menos divulgados. Pensei que os jovens intelectuais de Luanda se iam interessar pelas próprias raízes. Enganei-me, pelo menos até ver.
O DIÁRIO DE SALAZAR ( Parceria AMP, 2004) foi o terceiro volume editado. Está escrito na primeira pessoa. Procurei e julgo ter conseguido algum mimetismo com a escrita do ditador. Houve quem confundisse as sentenças de Salazar com as minhas. O livro conheceu 10 edições e contribuiu para a "moda" das publicações sobre o Estado Novo.
EU, CAMILLO (Parceria AMP, 2006) veio a seguir. Escrito na primeira pessoa, como o anterior, constitui uma homenagem ao romancista português que mais admiro. Trata-se, a meu ver, de um trabalho bem conseguido. Ainda assim, o seu percurso no mercado revelou-se uma desilusão. Aparentemente, desde que Camilo Castelo Branco deixou de ser estudado nos liceus, parece ter-se distanciado do gosto e do conhecimento das novas gerações de leitores. Pode ser que a adaptação ao cinema das suas obras lhe devolva o lugar que merece nas preferências dos nossos compatriotas.
Iniciei depois, de forma intervalada, uma série de três romances com base na nossa História colonial. Centrei-os na cidade onde cresci (Sá da Bandeira, também chamada Lubango, situada no Sudoeste de Angola). Comecei com OS COLONOS (Esfera do Caos, 2007), em que descrevo a fundação e o crescimento da cidade.
A série foi interrompida pela escrita de A ÚLTIMA PROFECIA (Editorial Cristo Negro, 2007), uma novela fantástica com sabor policial, criada a partir da História dos judeus ibéricos. O mais sagrado dos símbolos da religião de Moisés é resguardado pelos marranos e conduzido pela Armada de Cabral até à praias brasileiras.
Em OS RETORNADOS - O ADEUS A ÁFRICA (Editorial Cristo Negro, 2009), narrei, de forma que julgo descomplexada e, tanto quanto possível, objectiva, o regresso apressado dos portugueses de África e a penosa adaptação ao velho Portugal. O romance foi galardoado com o Prémio Serpis Fialho de Almeida da SOPEAM, para obras publicadas em 2009.
A trilogia projectada voltou a ser interrompida com a publicação de 1910 ( Editorial Cristo Negro, 2009), um romance histórico sobre os últimos tempos da Monarquia e a implantação da República. Bernardo Soares e Alberto Caeiro, que Pessoa fez viver naquele tempo, habitam as páginas do livro.
Chegou, finalmente, a vez de LUBANGO (Editorial Cristo Negro, 2010). Impregnado de referências auto-biográficas, fala de "estar" e retrata certo modo português de ser colono. Encerrei, deste modo, a trilogia.
Com REPÚBLICA, LUZ E SOMBRA (Parceria AMP, 2010), dei continuidade a 1910. Morrem alguns personagens e surgem outros mas, no essencial, o livro prolonga o anterior e conta uma história de amor ao longo dos anos conturbados que vão de 1911 a 1926. Fernando Pessoa mantém-se bem presente nesta obra.
E já são 10 os livros editados!
Não tenciono ficar por aqui. O DIA EM QUE DEUS COMEÇOU A DESMONTAR O MUNDO está pronto. A capa já foi esboçada... A sua escrita entusiasmou-me. É quase uma longa parábola. Mostra duas visões paralelas e quase sempre antagónicas do processo colonial. Uma é a de um alter ego do padre Carlos Estermann, missionário e etnógrafo de grande valor. A outra é a de um pequeno demónio da mitologia angolana. Conto publicá-lo no começo do próximo ano.
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