O PRÉMIO NOBEL DE BOB DYLAN
Tem sido muito
discutida muito a atribuição do Prémio Nobel de Literatura ao cançonetista
americano Bob Dylan. Curiosamente, lembro-me de ter lido, uns trinta anos
atrás, que Dylan era um dos maiores poetas americanos de todos os tempos. Na
altura, considerei tal afirmação um exagero.
O meu
conhecimento da língua inglesa está bem longe da perfeição, mas basta para
perceber que Bob Dylan é realmente um poeta. Daí a compará-lo a Herberto Hélder
ou a Eugénio de Andrade, para citar apenas exemplos portugueses recentes, vai,
no meu entender, uma longa distância.
A questão tem
sido profusamente badalada nos jornais e nas publicações na Internet. Lê-se um
pouco de tudo. Vai-se desde a indignação dos que choram e se revoltam por ter
sido banalizado o Prémio Nobel da Literatura (que, do da Paz, já nem se fala…) até
à jactância dos que afirmam que Dylan é maior que o Nobel e que quem ficou
engrandecido com a atribuição do prémio
foi a fundação sueca e não o cantor.
Após alguma
reflexão, cheguei a conclusões que me servem e tranquilizam. A canção ligeira
(não sei que outro nome lhe hei de dar) tem uma difusão extraordinária no mundo
moderno, ultrapassando com facilidade as fronteiras geográficas e linguísticas.
Julgo que Bob Dylan é mais conhecido no Universo do que qualquer dos anteriores
laureados com o Prémio Nobel da Literatura. Não conheço os números, mas trevo-me a imaginar que a soma das vendas dos
seus discos ultrapassou o total dos livros publicados pelos vencedores do Nobel
de Literatura nos últimos cem anos. Bem sei que quantidade não é qualidade e
que esta nem sempre se transforma naquela, ao contrário do que afirma uma das
leis da dialética. No entanto, a quantidade importa. Bob Dylan influenciou (a
meu ver, de forma positiva) centenas de milhões de pessoas por esse mundo fora.
Os puristas da
Literatura e, em especial, da Poesia, têm direito à indignação, tal como o têm
à indiferença ou ao aplauso.
A Fundação
Nobel, invocando argumentos diversos, prestou um serviço inestimável à canção
mundial, ao “nobelizar” (ou “nobilitar”) uma forma de arte geralmente
considerada menor.
Estou em crer
que, daqui em diante, as letras das canções tenderão a melhorar. Todos
conhecemos músicas belíssimas que gostaríamos de ouvir cantar em japonês ou
coreano, para que pudéssemos desconhecer a indigência da linguagem. Haverá cada
vez mais poetas a descerem (ou a subirem…) a escada que leva à condição de
letrista.
Parabéns a Bob
Dylan, que encantou a minha geração com as suas cantigas de intervenção. Parabéns
também à fundação Nobel!
O facto de os
cumprimentar não me faz esquecer que Herberto Helder – e provavelmente vários
outros poetas mundiais – jogam noutra divisão a que raros (se alguns)
escritores de canções terão acesso.
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