AS VOZES NO MARFIM
IV
O marfim é constituinte
dos dentes de diversos mamíferos, incluindo o homem. Sendo fácil de esculpir,
foi usado para fabricar objetos de culto ou de adorno, desde a aurora da
Humanidade. Dura muito mais do que a madeira e, como não se pode fundir, como
acontece aos metais preciosos como o ouro ou a prata, é utilizado
apenas uma vez. Perdura mais se for conservado em ambiente seco e não muito
quente.
Chegaram até nós
artefactos em marfim com mais de 20 milénios de existência. A representação
realista mais antiga que se conhece de um rosto humano é a chamada Vénus de
Brassempouy e foi esculpida em marfim de mamute. Atribui-lhe a idade de 25.000
anos.
Em Zaraysk, na Rússia, foi
encontrada uma escultura de um bisonte que terá 20.000 anos e foi trabalhada no
mesmo material.
Na Europa do centro e do
norte, os artefactos de marfim eram confecionados em dentes de morsa,
comerciados pelos vikings e pelos seus vizinhos. Conhecem-se cruzes e peças de xadrez de marfim
de morsa talhadas pelos anglo-saxões no sec. XI d.C.
Peça de xadrez anglo-saxónica
Alguns povos ilhéus, como
o açoriano, trabalharam, até há poucas décadas, dentes de cachalote.
O marfim foi utilizado por
quase todas as civilizações conhecidas.
Há exemplares de
esculturas em marfim de elefante e hipopótamo, produzidas no Egito há cerca de
5500 anos.
As primeiras estatuetas
gregas em marfim remontam ao século VIII a. C. Como na Grécia não havia
elefantes, os escultores helenistas combinaram-no outros materiais. O lendário
escultor Phidias (488-431 a.C.) trabalhou o marfim, juntamente com o ouro.
Painel fenício em marfim
Pouco nos chegou do que os
gregos trabalharam. Existem, contudo, várias placas dos últimos tempos de Roma,
geralmente pertencentes a dípticos.
Conhecem-se diversas
esculturas bizantinas em marfim, como este triunfo de um imperador
(provavelmente Justiniano), conhecido como o díptico Barberini, exibido no
Museu do Louvre. O nome provém do cardeal Francesco Barberini, a quem
pertenceu.
Triunfo do imperador
Os indianos tinham
elefantes e usaram-no como material de escultura desde há 4.000 anos. Também o
transaccionaram com chineses e japoneses.
"Santuário" Dashavtar
O marfim prestou-se de
forma notável aos padrões geométricos complexos produzidos pelas civilizações
islamizadas. Como os povos muçulmanos prosperaram durante um milénio e
dominaram largas parcelas de África e da Ásia, chegaram até aos nossos dias muitas
peças de marfim com origem na escultura árabe.
Painel árabe (Alhambra)
Na Europa, durante a Idade
Média, a peça mais importante produzida em marfim foi provavelmente o trono de
Maximianus, bispo de Ravena (546-556).
Até ao século XIX, o
marfim que chegava à Europa era pouco e dispendioso. A partir do final do século XVIII, com
a ocupação do interior da África subsaariana, os elefantes quase desapareceram
de várias regiões do continente.
Imagens: todas as imagens publicadas exceto o dente trabalhado de cachalote, que me pertence, foram retiradas da Internet.
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