AS VOZES NO MARFIM
III
Estes
meus elefantes,
a subirem a montanha da desgraça…
O maléfico vai e pensa ficar.
Vou
dar a volta ao embondeiro,
parirei
gémeos…
(Fragmento
duma canção da região de Luanda)
Os artistas africanos sempre
gostaram de retratar animais. Nas esculturas em marfim (note-se que falo apenas
das que conheço e que nem são assim tantas) são representados peixes, repteis,
pássaros e uma grande variedade de mamíferos.
Os artífices esculpem o
que conhecem. Terão visto, vivos ou mortos, os objetos do seu trabalho. De
outro modo as imagens conseguidas não seriam tão fieis.
Será de esperar que os
escultores de peixes, jacarés e hipopótamos vivam à beira da água e que os que
figuram dromedários habitem na parte norte do continente.
No entanto, pelo menos no
que me foi dado ver, há uma clara preferência pelos elefantes. Não admira. São
símbolos do poder, da força raramente agressiva, da autoconfiança e, quase, da
invulnerabilidade. À exceção das crias pequenas, o seu único predador é o
homem.
Aleixo Costa, um dos
últimos grandes caçadores africanos registou no seu livro “África, homens e
animais bravios”, um claro respeito pelos gigantes da selva. Escreveu ele, ou
quem quer que fosse que o ajudou a compor o livro: a verdade é que o leão não é nem nunca foi o rei dos animais bravios.
Essa realeza pertence ao elefante.
A estreiteza relativa dos
dentes de elefante ajusta-os mal à face humana. Por essa razão, e também pela
fragilidade, as máscaras são feitas em madeira, geralmente leve. O marfim é
reservado a certo tipo de estatuária. O perfil dos dentes presta-se à repetição
dos temas, com dimensões crescentes ou decrescentes.
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