JANUS
EM ÁFRICA
Jano
(Janus em latim), o deus das duas faces, foi a divindade romana das mudanças.
Tinha poder sobre todos os começos, incluindo o nascimento e a morte. A sua
figura era associada às portas, que permitiam as entradas e saídas. A face
dupla permitia-lhe vigiar o passado e o futuro. Era o deus dos inícios, das
decisões e das escolhas. O seu nome está associado às trocas e às colheitas,
aos navios e às moedas. Presidia ao
começo e ao fim dos conflitos e, por inerência, à guerra e à paz. De certo
modo, representava o tempo.
A
ideia de deuses com várias caras deixou vestígios em civilizações distanciadas
no tempo e na geografia. Os deuses de duas ou mais faces apareceram primeiro na
Babilónia e foram comuns no panteão hindu. Na Escandinávia, foram representados
pelo deus Heimdallr, nascido no começo do tempo.
Na
África Ocidental, são relativamente frequentes as estatuetas e as máscaras com
duas ou mais cabeças. Parte delas refere-se a gémeos. Outras terão diferente significado.
Encontraram-se na Nigéria, na Costa do Marfim, na Serra Leoa, nos Camarões e no
Congo, entre outros lugares.
Na falta de informação suficiente,
fico inclinado a extrapolar para as máscaras de duas faces a interpretação
geralmente atribuída às duas cabeças do cão Kozo, que auxilia os feiticeiros:
uma serve para ver o mundo de cá e a outra, o Além. As visões do passado e do
futuro terão uma relação indireta com estas funções.
Possuo
duas máscaras com mais de uma face. São tão diferentes que é difícil imaginar
contextos semelhantes para ambas.
Uma
delas poderá ter sido feita para ser pendurada. É contudo, de madeira muito
leve e tem orifícios que poderiam permitir a adaptação duma cabeleira. Mede 35 cm
de altura e 23 de largura e conserva vestígios de caulino branco. É fácil
encontrar fotografias de máscaras semelhantes em livros ou na Internet. É associada
ao povo Lenga ou Lengala, da República Democrática do Congo. Provavelmente, é
produzida para comercialização.
A
outra é uma máscara-elmo antropomórfica e encimada por duas cabeças e por uma
estatueta de mulher. Tem 64 cm de altura e a base mede 37 por 27 cm. Pesa 11
kg, o que a torna incómoda de transportar sobre os ombros. Poderá destinar-se a
outra finalidade.
Procurei
imagens de exemplares semelhantes nos livros que tenho e na Internet. Não
encontrei nenhuma igual. A mais aproximada remonta ao povo Fang, que se
distribui pelo Gabão, Guiné Equatorial e sul dos Camarões. No entanto, as
diferenças são substanciais.
Comprei a minha há alguns anos, num antiquário de Grândola. Continua à espera de conhecer a sua
proveniência.
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