NECROFILIA NA LITERATURA PORTUGUESA
FIALHO DE ALMEIDA
A necrofilia é um padrão desviante do comportamento sexual em
que a excitação é desencadeada pela visão de cadáveres ou pelo contacto com
eles.
Conhecem-se diversos casos em que os autores recorreram a descrições de necrofilia para chamarem a atenção dos leitores para as suas obras. Um dos mais emblemáticos será o poema "O noivado do Sepulcro" de Soares dos Passos. Quem não se lembra de:
"Vai alta a lua!Na mansão da morte
Já media noite com vagar soou..."
Quer Fialho de Almeida, quer Camilo Castelo Branco produziram obras
literárias que tiveram a necrofilia por tema. Neste artigo, vou falar de Fialho.
Conheço «A
Ruiva», de Fialho de Almeida, desde os meus catorze ou quinze anos. Por essa
altura, eu lia tudo o que encontrava. O meu pai tinha a sua obra. Li a toda a coleção de «Os gatos» e a seguir, li "Os contos". Lembro-me de ter achado «A Ruiva» uma narrativa erótica.
Fialho
de Almeida ainda foi contemporâneo de Camilo. Nasceu quando Camilo Castelo
Branco ia nos 32 anos e sobreviveu-lhe dezanove.
Fialho
conhecia Camilo e apreciava-o. Dedicou-lhe os seus «Contos», com termos muito elogiosos.
Andava
à procura da “Ruiva” de Fialho e encontrei a de Renoir. Descobri, por acaso,
que o pintor Pierre Renoir era pai do realizador de cinema Jean Renoir. Andrée
Hessling, aqui retratada, usou também usou o nome de Catarina. Foi o último
modelo do pai e a primeira atriz dos filmes do filho, que se casou com ela.
Voltei
a ler «A Ruiva», desta vez na Internet. Encontra-se digitalizada e disponível
gratuitamente, no sítio da Biblioteca Nacional e, pelo menos, noutro endereço
eletrónico. É fácil de descarregar para o computador pessoal.
No
conto de Fialho, a necrófila é Carolina, a Ruiva, filha do coveiro e órfã de
mãe. Ainda virgem – e passo a citar Fialho:
“Nas
horas de calor, de verão, quando sob os ciprestes os empregados do cemitério
dormiam, ia devagarinho, sem ser pressentida, à casa dos depósitos, escolhia os
cadáveres dos moços, dos belos, se os havia, e como um pequeno vampiro sequioso
entreabria as mortalhas, despregando com uma navalhinha as camisas; metia a mão
devagarinho pelo peito, metia, escorregando-a ao longo das carnes,
beliscando-as levemente, com prazer”.
E
a história, que é mais novela do que conto, vai de desgraça em desgraça. O
autor obriga o coveiro enterrar a própria filha. O texto acaba com o narrador a
olhar a caveira da ruiva Carolina, em cima da sua banca de contista médico.
Não
foram atribuídas a Fialho de Almeida tendências sexuais desviantes.
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