JERÓNIMO BOSH
O JARDIM DAS DELÍCIAS
II
A
razão de pertencerem atualmente ao Museu do Prado alguns dos melhores trabalhos
de Bosh reside no gosto do rei Filipe II de Espanha (o nosso Filipe I, primo
direito de D. Sebastião) pelas suas obras. Adquiriu algumas.
Filipe
II era o mais conservador dos monarcas católicos. Leria Bosh à sua maneira.
Hieronimus
Bosh criou figuras complexas, originais e difíceis de entender.
Utilizou
símbolos variados e por vezes ambíguos do Mal e do Bem para descrever a loucura
do mundo que escorregava (tal como escorrega agora e quase me atrevo a dizer
que escorregou sempre) para a perdição moral. Julgo que há mais vagas nos
hotéis do Céu do que na concorrência.
Voltemos
ao Jardim das Delícias. No painel da esquerda está representado o Paraíso.
Há animais africanos mais ou menos fantasiados. Em
lugar dum Paraíso tranquilo em que os animais vivem na paz de Deus, há um leão
preparado para devorar um veado e um javali a perseguir uma figura estranha com
duas pernas. Perto do tanque, um leopardo abocanha um lagarto e uma ave come
uma rã.
Deus, figurado como
Cristo, está de pé, e apresenta a Adão a Eva acabadinha de criar e pronta para
o pecado.
O painel da direita
representa o inferno. É um painel sombrio que contrasta com os antecedentes.
Há quem lhe chame o
Inferno da Música, tantos são os instrumentos musicais apresentados.
No estrato superior são
representados o fogo e os tormentos.
O andar médio contém
figuras de pesadelo.
A faca ligada às orelhas
tem sido interpretada como um símbolo fálico.
O painel é dominado pela
figura do homem-árvore, que olha para o observador.
Tem na cabeça um disco em
que dançam pequenos demónios. Os braços são troncos de árvore e apoiam-se em
barcaças.
O peito é oco e dá abrigo a monstros.
O andar inferior é o da
orquestra. Os instrumentos musicais são aparelhos de tortura.
Em lugar do maestro está
um demónio que devora condenados e os vai defecando para um poço negro.
Em baixo, à direita, um
homem é abraçado por uma porca com touca de freira.
A maior parte dos críticos
atribui a Bosh intenções moralizantes. Mostrar os horrores do inferno pode
facilitar a entrada nos caminhos do céu. Também as catedrais antigas exibem
gárgulas com aspeto demoníaco.
No entanto, Bosh gasta-se
mais na descrição do perverso que na promoção do Bem. Para ele, a tolice e o
pecado fariam parte da natureza humana. Há quem diga que se limitou a apontar
factos, desistindo de dar conselhos.
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