DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sábado, 31 de agosto de 2013



                     

                            CAPÍTULO  XIII




− Por favor, isto é muito importante. Tem de nos ajudar! – Implorou Guillermo, quase chorando, a um agente.
− Lamento rapaz, mas isso é uma proposta complicada. Eu e o centro da cidade não funcionamos bem juntos. Mais uma vez, lamento. – Disse o homem, despenteando o cabelo de Guillermo.
− Com quem falamos a seguir? – Perguntou a criança, desapontada.
− Também não sei. Só conheço as pessoas deste departamento e, infelizmente, já falámos com todas as que nos poderiam ajudar.
Mas Guillermo não desistiu. Atravessou o corredor até ao elevador e desceu para o andar imediatamente abaixo. Mellie seguiu-o, porém mais lentamente e menos animada. Ela não sabia o que iria o pequeno rapaz fazer, mas confiava nele a cem por cento e por isso não tinha o que temer.
Guillermo falou com três agentes que recusaram até que chegou a uma mulher alta e vestida de uma maneira diferente da de todas as outras que ali se situavam. Tinha calças pretas e uma camisa da mesma cor. Parecia ser uma polícia bastante trabalhadora e, por isso, a criança aproximou-se.
− Desculpe, o meu nome é Guillermo e eu gostaria de lhe fazer uma proposta.
− Não és um pouco novo para andares por aqui sozinho? – Inquiriu a mulher.
− Ele não está sozinho. – Disse Mellie, aproximando-se.
− Que proposta é essa? Ah, já agora chamo-me Nicole.
− Decerto conhece Fréderique Lasone, director da AFCC. Ele fez umas experiências com um homem chamado Marc MacLarens. Já ouviu este nome? – Interrogou Mellie, após se apresentar.
− Sim, ouvi falar, em especial da morte dele. Mas, porque me fala dele?
− Joshua MacLarens, o meu namorado, é seu irmão e tem igualmente o dom de Marc. Tal como este, corre perigo de morte e precisa de segurança. A opção a ficar sozinho num abrigo fechado, sem poder ver aqueles que ama é arranjar três agentes, dispostos a protegê-lo diariamente, em turnos. – Explicou Mellie. – Pode parecer que não, mas isto é muito importante para nós.
− Onde se situa a casa onde eu teria de ficar?
− Na Rua Cloître Notre Dame. É uma bela zona para morar, perto da catedral. – Declarou.
− E porque razão ainda ninguém aceitou esse trabalho? É por algo em especial que ainda não me tenha contado? – Questionou Nicole. – Parece-me um trabalho razoável, sem contar com o horário de alguns turnos.
       - Eu não sei se já alguém concordou com este emprego. Estamos sem contato com a casa, pois não podemos usar telemóveis diretamente para MacLarens ou para quem esteja perto dele. Por uma questão de segurança. Mas em relação ao trabalho, as pessoas que trabalham na AFCC têm um certo pavor da cidade, por razões que eu desconheço. – Esclareceu Mellie.
− A mim parece-me um bom emprego. Não tenho razões para odiar a cidade e Paris é o meu lar. Nasci e cresci lá.
− Isso quer dizer que aceita? – Inquiriu Guillermo, que estava atento à conversa.
O rapaz, que não conhecia Joshua muito bem, queria muito que ele ficasse, pois se ele fosse para o abrigo, Mitch sairia dali também. E se isso acontecesse, o novo amigo do rapaz latino iria embora e Guillermo ficaria sozinho outra vez. Além disso, ele e Marc eram grandes amigos, mesmo com aquela diferença de idades e ele achava que os irmãos MacLarens eram muito parecidos, tanto na forma física como na personalidade.
− Sim, acho que aceito a proposta. Mas vou ter de contatar com MacLarens e com os outros agentes contratados. É importante conhecer os nossos protegidos antes de começar o trabalho. – Comunicou Nicole.
Mellie não sabia que diria Joshua. Aquilo era perigoso. Mas como podem contratar uma agente se não confiam nela?
− Sim, claro. Dê-me o seu número de telemóvel e logo entrarei em contato consigo.
− Conseguimos. Será que o Mitch, a Margaret e o Joshua já arranjaram mais dois agentes? Estou esfomeado. – Disse Guillermo.
− Não sei, mas vamos regressar a casa. Também já tenho alguma fome e, dentro de pouco, o laboratório fecha portas.
Regressaram a casa e encontraram os três que lá tinham ficado a descansar.
− Voltámos. Arranjámos uma agente que quer falar contigo e falámos com quase toda a gente do laboratório e, Fréderique tem razão, todos têm um certo ódio pela cidade. – Declarou Mellie. – E vocês?
− Um agente que me parece ser muito responsável. Vamos jantar fora. Conheço um restaurante ótimo aqui perto. – Afirmou Joshua.
− Tu sabes que não podes sair de casa. Mandamos vir uma pizza. É mais simples e menos perigoso. Não queremos arranjar confusões com Lasone, senão ainda muda de ideias quanto ao abrigo.
− Tens razão, é melhor. Quando é que contatamos a agente? Tem de ser o mais rápido possível. O Sebastien vem já amanhã de manhã para tratar dos horários. – Declarou Joshua.
− Eu vou ligar-lhe a dizer que venha à mesma hora.
E dito isto afastou-se da sala, dirigindo-se à varanda.
“Nicole, é a Mellie. Falou comigo há umas horas. – Sim, tem novidades? – O Joshua diz para vir amanhã de manhã. Se conhecer alguém de confiança que esteja disposto a aceitar este emprego, traga-o. Irá estar aqui Sebastien, o outro segurança. Vemo-nos amanhã? – Sim, claro, aí estarei.” Quando Nicole se despediu, a cientista desligou o seu telemóvel e voltou para a divisão onde estavam os outros.
− Muito obrigado. – Agradeceu MacLarens ao rapaz das entregas que lhe acabara de trazer as pizzas. – Pizza para todos!
Tanto as crianças como os mais velhos aproximaram-se, mas pararam quando viram um bilhete dentro da caixa.
− O que diz? – Perguntaram em coro a Mitch, que tinha pegado no papel.
“Como já referi anteriormente, eu irei saber sempre onde está Joshua. Para quê demorarem tanto tempo a entregarem-mo? Durante este tempo de espera, eu vou ganhando raiva e depois a sua morte será mais dolorosa.”
- Mitch, pára de ler! – Ordenou Joshua, limpando a lágrima do rosto da criança. – Eu acabo de ler.
Dito isto, tirou-lhe a carta e continuou.
“Deixem-no numa carrinha à frente da catedral e a chave debaixo dela. Não vale a pena esperarem lá por mim, eu mando alguém ir lá buscá-la. Têm dois dias ou eu ficarei muito zangado. E não se esqueçam: não se podem esconder de mim.
Assinado: XX.”
− Outra ameaça. Não sei o que mais podemos fazer. Tem de ser alguém perto de mim, mas eu confio em todos vocês.


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