CONTOS ANGOLANOS
A literatura
tradicional angolana assenta na transmissão oral de contos, provérbios, lendas
e canções. Foi recolhida e registada em linguagem escrita por etnólogos
amadores que residiram durante muitos anos na vizinhança das populações. Será
justo destacar entre eles Héli Chatelain, Carlos Estermann, Alfredo Hauenstein
e, mais recentemente, Óscar Ribas. Os três primeiros foram missionários de
confissões cristãs diversas.
Os etnólogos
registam as palavras com a preocupação de objetividade indispensável ao rigor
científico mas estranha ao processo de contar. A maior parte das recolhas foi
efetuada antes da divulgação das máquinas de fixar imagens e sons. Não foi
possível reproduzir as vozes nem os gestos e a mímica.
Os contos
tradicionais africanos, tal como os nossos, foram feitos para serem escutados.
Ao passarem à forma escrita garantem a perenidade, mas transformam-se.
Perdem-se a prosódia do narrador e as reações da assistência. Ainda assim,
encantam. Há situações claramente preparadas para espantar o ouvinte (e, neste
caso, o leitor). Resulta curiosa a mistura entre os ensinamentos morais e a
falta deles e a proximidade da lógica ao absurdo.
Decidi
apresentar on line, com
alterações e acrescentos, um conjunto de histórias em parte publicadas em papel oito
anos atrás pela editora Europress, sob o título No Tempo do Caparandanda. Chamam-se
agora CONTOS ANGOLANOS. Trata-se de quarenta narrativas que incluem fábulas,
contos e mitos. Algumas são protagonizadas por animais, enquanto outras tratam
de gente comum ou se ocupam de papões.
Ao reescrever,
procurei respeitar o fio das histórias, adaptando-as. Usei, aqui e além, da
liberdade permitida aos contadores. Afinal, o ato de narrar foi sempre criativo.
António Trabulo
Nota: a capa baseia-se numa pintura de Toia Neuparth
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