DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

terça-feira, 18 de outubro de 2011



                                             A ÁFRICA A PÉ

Há livros que nos chamam. Tinha esquecido na estante um volume bastante maltratado que o meu amigo Carlos Nunes Pinto, da Bibala, me emprestara há quase um ano. Ontem, saltou para as minhas mãos. Já o não devolvo tão cedo. Data de 1886 e foi editado pela Imprensa Nacional, em Lisboa. Chama-se “De Angola à Contra Costa” e foi escrito a meias por Hermenegildo Capello e Roberto Ivens, “Officiaes da Armada Real Portuguesa” que, nos finais do século XIX, atravessaram a pé o continente africano, de Angola a Moçambique. A edição apoia-se em mapas bem desenhados e é ilustrada com dezenas de gravuras.
Por essa altura, boa parte do continente africano era mal conhecida. Entre 1870 e 1890, alguns países europeus deitaram olhares cobiçosos ao continente negro. Queriam garantir o fornecimento de matérias-primas e conseguir mercados para a produção industrial. Estas ambições contrariavam os direitos que Portugal julgava seus, por prioridade nas descobertas. Em 1885, a Conferência de Berlim instituiu o princípio da ocupação efectiva dos territórios como fonte de soberania. A instâncias da Sociedade de Geografia, o governo português, pela mão do notável ministro Manuel Pinheiro Chagas, poeta prometedor na sua juventude, promoveu nova expedição ao interior do continente africano.


Hermenegildo Capello e Roberto Ivens foram escolhidos para desempenar esta árdua tarefa devido à experiência que Já detinham em viagens semelhantes. Em 1877, tinham partido de Benguela, juntamente com o major Alexandre Serpa Pinto. Tinham por missão estudar as relações hidrográficas entre as bacias dos rios Zaire e Zambeze e as regiões entre Angola e Moçambique. Desentenderam-se, o que não admira, pois a dureza do percurso punha à prova os nervos melhor temperados. Separaram-se no Bié. O major Serpa Pinto dirigiu-se para Leste, atingiu o curso do Zambeze e atravessou o continente africano até Durban, onde chegou em 1879. No regresso, escreveu o livro “Como eu atravessei África”. 


Os dois oficiais da Armada obedeceram ao plano original e dirigiram-se para o Quióco, à procura da nascente do Cuango. Seguiram o curso deste rio até Iacca, antes de regressarem a Luanda. Deram fé da sua viagem na publicação intitula-a “De Benguela à terra de Iacca”.
A leitura do livro” De Angola à Contra Costa” serviu de pretexto para uma série de pequenos artigos que irei publicando neste blogue ao longo das próximas semanas. Irá chamar-se A ÁFRICA A PÉ. É que os portugueses não foram pioneiros apenas no descobrimento de rotas marítimas. O primeiro explorador europeu do continente africano foi João Fernandes, em 1445. Mais de 300 anos antes de Livingstone e de Stanley, já Pêro da Covilhã se instalara na Etiópia e D. Manuel I encarregara Gregório da Quadra de explorar o curso do rio Zaire e o Reino do Congo, buscando o caminho que haveria de levar ao centro do continente africano.


Sem comentários:

Enviar um comentário