DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A BATALHA DO LYS - O ALCÁCER-QUIBIR DA REPÚBLICA



No inverno de 1917-1918, a vontade de combater do Corpo Expedicionário Português era quase nenhuma e a situação disciplinar estava a degradar-se. Alguns oficiais que iam de licença a Portugal "esqueciam-se" de regressar.
Muitos políticos portugueses tinham considerado que a nossa entrada na guerra, ao lado dos britânicos, implicaria o reconhecimento internacional da República e poria um travão às intenções inglesas e alemãs de tomarem conta das nossas colónias. A própria existência de Portugal como Nação independente estava em risco. Sabia-se que, em 1913, a Inglaterra e a Alemanha tinham iniciado negociações para uma eventual partilha das colónias portuguesas. O rei de Espanha chegara a informar os ingleses que, em caso de chegarem a acordo com a Alemanha nesse sentido, a Espanha exigiria para ela o território do Portugal europeu.
A verdade é que Portugal entrou no conflito cerca de dois anos antes da declaração formal de guerra. A 11 de Setembro de 1914, partiu de Lisboa, em direcção às colónias, o primeiro contingente militar. No fim do mesmo ano, as nossas forças já lutavam com os alemães no Sul de Angola e no Norte de Moçambique.
Combinou-se que Portugal enviaria para França 56.000 soldados. Correspondiam aos efectivos necessários para a ocupação de 12 quilómetros de frente, no sector inglês da Flandres. Os portugueses embarcaram entre Dezembro de 1916 e Abril de 1917. Chegaram pouco antes da primeira divisão americana.

Os beligerantes estavam a sofrer desgastes terríveis. Em 1917, dos 3.600.000 franceses mobilizados em 1914, restavam apenas novecentos e tal mil. Os restantes tinham sido mortos, feridos ou capturados. Apesar das incorporações sucessivas, o exército francês de 1917 era mais reduzido que o de 1914. Ocorriam motins e fuzilamentos nas trincheiras.
A 21 de Março de 1918, o sector inglês teve de enfrentar a ofensiva alemã da Primavera. Revelou-se a mais violenta desde 1914. Os alemães tinham dado conta de que a chegada das tropas americanas estava a desequilibrar a guerra em seu desfavor e resolveram atacar, enquanto podiam. O Quinto Exército inglês foi obrigado a recuar cerca de 60 quilómetros e deixou de existir como força de combate.
Os efeitos da derrota britânica fizeram-se sentir no moral das nossas tropas. A 4 de Abril, uma brigada que fora mandada avançar, para substituir a que se encontrava na linha de frente, recusou cumprir a ordem. Era a insubordinação. A indisciplina contagiou outras unidades e a capacidade operacional do C.E.P., que nunca fora muito grande, atingiu o seu posto mais baixo. Alarmado, o general Tamagnini de Abreu solicitou ao comando britânico que substituísse temporariamente toda a I Divisão portuguesa. Os ingleses não estavam em condições de o atender.
A 8 de Abril, parecia que a investida alemã tinha perdido força e a I Divisão do C.E.P. começou a retirar. Estava previsto que a retirada da II Divisão se efectuasse durante o dia seguinte. Não houve tempo para isso.
Na madrugada de 9 de Abril, os portugueses sofreram um bombardeamento violento. Seguiu-se o assalto do exército alemão. Deu-se a "batalha do rio Lys". No espaço de poucas horas, foram abatidos 7.000 soldados e mais de 300 oficiais portugueses. Era o maior desastre militar lusitano desde Alcácer-Quibir.
Os destroços do C.E.P. foram transferidos para a retaguarda. A desmoralização das tropas portuguesas era notória. Embora os ingleses ainda tenham integrado algumas unidades nas suas forças, a guerra, para nós, terminara.




Referências: História de Portugal, direcção de José Mattoso. Círculo de Leitores, 1994.


Fotografias: Internet.




Também publicado em Milhafre.

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