DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

sábado, 14 de outubro de 2023

 

               ÁGUAS FURTADAS

                            


    Tenho livros espalhados por vários lugares.

    Aqui há umas semanas voltei ao Algarve e passei os olhos por uma estante, à procura de um livro que me ajudasse a adormecer. A intenção falhou. Dei com este opúsculo de António Barbedo, editado pelo Laboratório Bial. A ilustração é excelente e deve-se a Carlos Magalhães.

   A publicação não tem data. Pelo aspeto da fotografia do autor, será dos primeiros anos deste século.

    António Barbedo é médico psiquiatra. Começou a publicar poesia em 1978. Tem diversos livros publicados e colaborou em algumas antologias. Recebeu, em 1983, o Prémio António Patrício da Sociedade Portuguesa de Escritores Médicos. (Penso que, na altura, os Artistas Médicos ainda continuavam fora da Associação).

   Tive o prazer de o conhecer em anos recentes, em reuniões da SOPEAM. Deu-me a honra de apresentar um livro meu.

     A escrita do livrinho é cuidada, contida e concisa. O bom-gosto do poeta está bem à vista.

   Deixo aqui um dos poemas do opúsculo. Escolhi “Grafite”, mas poderia ter optado por qualquer um dos outros.


                          Grafite


           Esboça um tronco

           e apaga o desenho, volta

           a riscar a raspar incessantemente

           até que da árvore

           resta apenas a própria sombra. 


           Da folha

           guarda a textura quase transparente

           o esfoliar da rasura

           a lâmina húmida do X-acto.


           Ocultar para conhecer.

           Não assinar. 



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