NO CENTENÁRIO
DA BATALHA DO RIO LYS
Às 4
e um quarto da madrugada do dia 9 de Abril de 1918, a artilharia germânica iniciou um
bombardeamento de intensidade nunca vista pelas nossas tropas. Durou 4 horas e destruiu
as defesas da primeira linha. Depois, os boches lançaram oito divisões de
infantaria contra as extenuadas forças portuguesas.
As
explosões abalaram os doze quilómetros de frente guarnecidos pelos portugueses
e fustigaram as bordas dos setores vizinhos. Os obuses caíam sem cessar e eram
cada vez melhor apontados. A segunda linha de trincheiras foi atingida em
pleno. Os boches pareciam saber exatamente onde se encontravam os ninhos de metralhadoras.
A maioria foi silenciada antes de estar à vista alguém em quem atirar.
Os
clarões das explosões iluminavam a noite mais do que a aurora nascente. A terra
estremecia. Houve extensões de trincheira que foram soterradas, com os
ocupantes dentro. Deixou de ser possível circular sem exposição a céu aberto e
a cadeia de comando perdeu-se. Viam-se pedaços de corpos destroçados e ouviam-se
gritos de agonia por todos os lados.
O
terror tomou conta de muitos dos nossos combatentes. Quando a infantaria alemã
avançou, a debandada em direção à terceira linha de trincheiras foi geral.
A
morte iguala valentes e cobardes. Os monumentos à memória dos soldados caídos
em combate não os discriminam. Convém à tranquilidade de espírito da Pátria
considerar que todos foram heróis, mas não é assim em guerra nenhuma. No dia 9
de Abril de 1918, muitos portugueses viram a morte de frente, mas foram também
numerosos os atingidos pelas costas. Era a “batalha do rio Lys”. No espaço de
poucas horas, foram abatidos 7.000 soldados e mais de 300 oficiais portugueses.
Foi o maior desaire militar lusitano desde Alcácer Quibir.
Os
destroços do C.E.P. foram transferidos para a retaguarda e concentrados na
região de Samer. A desmoralização das forças portuguesas era notória. A guerra,
para nós, terminara. Os ingleses ainda integraram algumas unidades nas suas
forças e usaram outras como cavadoras de trincheiras. O que restava do nosso Corpo
Expedicionário manteve-se em França até final de 1918.
Modificado de "República, Luz e Sombra", de António Trabulo
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