NO BICENTENÁRIO DO
NASCIMENTO DE KARL
MARX
III
DIALÉCTICA
É sabido que existem
ignorantes atrevidos que se atrevem a pôr em causa ideias que conhecem mal. Falo de mim.
Durante
muitos anos aceitei que o conceito de Dialética, lançado por Hegel e aperfeiçoado
por Feuerbach e Marx explicava satisfatoriamente a evolução do mundo e das
sociedades.
A dada altura da minha
vida, deu-me para descrer da dialéctica. Parece-me demasiado esquemática e mal
adequada a explicar a confusão do Universo. A união e a luta dos contrários
afigura-se-me simplista. Nem sempre serão contrários os múltiplos elementos que
compõem o mundo e a nós próprios. Conhecemos apenas uma parte deles. Umas vezes
digladiar-se-ão, enquanto outras constituirão alianças, trocarão partes ou,
simplesmente, se ignorarão mutuamente.
Agrada-me mais o conceito
de Lavoisier, que foi filósofo sem o pretender ser. Enunciou o princípio de
conservação da matéria: na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se
transforma. Alegadamente, o russo Mikhail Lomonossov terá chegado anos antes a
uma conclusão semelhante.
Sinto-me tentado há muito
a alargar esse princípio à energia, e assim ao conjunto do cosmos. Não alimento
ilusões megalómanas: muitos outros o terão feito antes de mim.
Seria assim mais fácil
entender o Universo: não começou e não terá fim, nem no tempo, nem no espaço.
Se se dilata numa região, como asseguram os físicos que está a acontecer agora,
há-de contrair-se noutra. As forças centrífugas e centrípetas hão de
contrabalançar-se. À escala cósmica, o Big Bang não passará de outra madrugada.
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