DE CÁ E DELÁ

Daqui e dali, dos lugares por onde andei ou por onde gostaria de ter andado, dos mares que naveguei, dos versos que fiz, dos amigos que tive, das terras que amei, dos livros que escrevi.
Por onde me perdi, aonde me encontrei... Hei-de falar muito do que me agrada e pouco do que me desgosta.
O meu trabalho, que fui eu quase todo, ficará de fora deste projecto.
Vou tentar colar umas páginas às outras. Serão precárias, como a vida, e nunca hão-de ser livro. Não é esse o destino de tudo o que se escreve.

quarta-feira, 4 de abril de 2018



NO BICENTENÁRIO DO 

NASCIMENTO DE KARL MARX

III

           DIALÉCTICA

É sabido que existem ignorantes atrevidos que se atrevem a pôr em causa ideias que conhecem mal. Falo de mim.
Durante muitos anos aceitei que o conceito de Dialética, lançado por Hegel e aperfeiçoado por Feuerbach e Marx explicava satisfatoriamente a evolução do mundo e das sociedades.
A dada altura da minha vida, deu-me para descrer da dialéctica. Parece-me demasiado esquemática e mal adequada a explicar a confusão do Universo. A união e a luta dos contrários afigura-se-me simplista. Nem sempre serão contrários os múltiplos elementos que compõem o mundo e a nós próprios. Conhecemos apenas uma parte deles. Umas vezes digladiar-se-ão, enquanto outras constituirão alianças, trocarão partes ou, simplesmente, se ignorarão mutuamente.


Agrada-me mais o conceito de Lavoisier, que foi filósofo sem o pretender ser. Enunciou o princípio de conservação da matéria: na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Alegadamente, o russo Mikhail Lomonossov terá chegado anos antes a uma conclusão semelhante.
Sinto-me tentado há muito a alargar esse princípio à energia, e assim ao conjunto do cosmos. Não alimento ilusões megalómanas: muitos outros o terão feito antes de mim.
Seria assim mais fácil entender o Universo: não começou e não terá fim, nem no tempo, nem no espaço. Se se dilata numa região, como asseguram os físicos que está a acontecer agora, há-de contrair-se noutra. As forças centrífugas e centrípetas hão de contrabalançar-se. À escala cósmica, o Big Bang não passará de outra madrugada.



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