COINCIDÊNCIAS
Há cinco dias, pouco antes
da hora do jantar, ouvi tocar à campainha. Eu estava cá em cima, no escritório.
A minha mulher preparava a refeição, enquanto o meu neto António se entretinha
com um jogo de computador.
A São abriu a porta. Quem
tinha tocado era um bombeiro alto, com fato de trabalho limpíssimo. Estava
outro colega, logo atrás.
− Têm fogo em casa?
− Fogo? Nós?
A minha mulher chamou-me.
− Desce, que estão aqui os
bombeiros.
Desci.
− Têm a lareira acesa?
− Sim, respondi. – Como quase
todos os dias, quando faz frio.
− Podemos entrar?
− Com certeza!
Entraram. Na lareira ardia
um lume baixo. A sala tinha o aspeto do costume.
− Não notaram nada de
especial?
Eu e a São
entreolhámo-nos. Foi ela que respondeu:
− Não.
− Bem… Telefonaram para o
quartel a avisar dum fogo que saía da chaminé.
− A chaminé está a arder? –
Perguntei eu.
− Não. Só se vê fumo.
Saí com eles e fiquei surpreendido.
Tinha ouvido o som de sirenes mas, como eram frequentes, não lhes dera importância.
Frente à minha porta, estavam estacionados dois camiões de combate a
incêndios e dois jipes. As luzes piscavam e o trânsito na rua havia sido
interrompido. Um magote de curiosos juntara-se no passeio oposto. Da chaminé, saia o fumo do costume.
Atravessei a rua. Estavam
lá alguns rostos conhecidos.
− Eu vi chamas a sair duma chaminé – declarou um vizinho que eu conhecia de ver passar a passear o
cão.
− Da minha?
− Não sei bem. Era dessa
direção...
Presumi que tivesse sido
ele a dar o alarme.
O bombeiro que me tocara à
campainha – supus que fosse o chefe – declarou:
− Foi alarme falso. Vamos
embora.
Agradeci-lhe, do coração,
porque me tinham feito sentir protegido. Abriguei-me do vento na portada.
Fazia frio.
Os veículos dos bombeiros
foram-se embora e o trânsito voltou à normalidade.
Acho que nunca tinha mandado
limpar a chaminé. Era coisa que tinha já tardado demais.
Na manhã seguinte,
encontrei na caixa do correio um cartão de propaganda dum limpa-chaminés.
Coincidência?
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