AR CONDICIONADO
Quem possui memória sabe
que o nosso país tem evoluído muito em quase todos os aspetos da atividade
laboral. No entanto, o progresso não chegou a todos ao mesmo tempo. A história
que vou contar aconteceu em Setúbal, há cerca de quatro anos.
Mandei montar no meu
quarto de dormir um aparelho de ar condicionado. Adquiri a máquina, de fabrico
português, numa grande superfície comercial do distrito, com quem contratei a
instalação.
Ao fazer a remodelação da
casa centenária que habito, tive o cuidado de encomendar a colocação de
pré-instalações de ar condicionado em diversos compartimentos. O artista que
veio montar o aparelho desdenhou olimpicamente dos dispositivos preparados e
ligou-os onde muito bem entendeu. Calei-me, após uma única observação, aliás mal aceite. Quem era
eu para contestar as opiniões do técnico?
Durante algum tempo, tudo
correu bem. No começo do segundo verão, o aparelho de ar condicionado negou-se
a trabalhar.
Como estava dentro do
período de garantia, telefonei ao vendedor, que me forneceu o contacto do
fabricante.
O técnico nem tardou a
chegar. Observou rapidamente o aparelho e transmitiu-me as suas conclusões. A
placa tinha-se queimado e a culpa era da EDP, que permitiria “picos” excessivos
de energia. O fabricante não tinha responsabilidades no processo. Eu deveria
entender-me com a distribuidora de eletricidade.
Tive vergonha de confessar
que não fazia a mínima ideia do que fosse a tal placa, mas pedi-lhe que
registasse a sua opinião por escrito, ao que ele acedeu. Ainda tenho esse papel
guardado em algum sítio.
Armado com o douto
parecer, contactei a EDP. A resposta foi contrária à do técnico: todos os
circuitos elétricos sofriam alterações de tensão e os aparelhos deveriam estar
preparados para os suportar.
Voltei a contactar o
técnico. O homem não tinha dúvidas. A responsabilidade era, definitivamente, da
EDP.
Já não sabia que fazer.
Encontrava-me num impasse. Comprara um aparelho que estava dentro do prazo de
garantia e que deixara de funcionar. Nem o fabricante, nem o fornecedor de
energia elétrica assumiam a responsabilidade pela avaria.
Estava eu a debater o
assunto com a minha mulher, quando aconteceu o milagre. O aparelho de ar
condicionado voltou a funcionar. Afinal, a tal placa regenerara.
A explicação não requeria
conhecimentos especializados. A São encostara-se à parede e acionara
inadvertidamente o interruptor do circuito, tapado por uma cortina.
Passaram mais de três anos
e o aparelho continua a trabalhar. Não sei que será feito do tal “técnico”. Não
lhe dei esta notícia, mas ele terá recebido outras semelhantes. Espero que
tenha aprendido, pelo menos, alguma modéstia.
Sem comentários:
Enviar um comentário