ONDE
ESTÁ O TSIPRAS PORTUGUÊS?
Alexis
Tsipras é presidente do partido grego Synaspismos e líder da coligação da
esquerda radical grega SYRIZA. É também o primeiro-ministro do seu país desde janeiro
de 2015.
Enfrenta,
neste momento, grandes dificuldades nas negociações com as instituições
europeias e com o FMI, sendo uma incógnita o futuro próximo da Grécia. O país
poderá sair da zona Euro e, eventualmente, abandonar a União Europeia, dentro
de dias ou meses.
Desencadeou,
contudo, uma onda de fundo contra o poder instituído no velho continente e pôs
em causa a estabilidade dos partidos políticos convencionais. O seu exemplo deu
frutos noutros países.
Na
vizinha Espanha, o partido Podemos, que desfralda a bandeira do combate contra
a austeridade, obteve recentemente resultados históricos nas eleições
municipais e regionais. Deverá integrar a coligação que vai governar Barcelona
e aproximou-se do poder em Madrid. Politicamente colocados mais ao centro, os
Ciudadanos conseguiram também votações expressivas. O Partido Popular, no
poder, e o PSOE, terão perdido a hegemonia eleitoral a que os espanhóis os
habituaram.
No
SYRISA e no Podemos, os resultados eleitorais estão em
relação com os carismas dos seus líderes e o modo como souberam canalizar o desagrado pelas políticas de austeridade levadas a cabo pelos governos de direita.
O
primeiro-ministro grego Alexis Tsipras vai apenas nos 40 anos e militou na
juventude comunista. É licenciado em engenharia e tem algumas pós-graduações.
Num discurso em Berlim, em maio de 2014, manifestou a sua oposição à política
neo-liberal, vigente na Europa sob a batuta de Angela Merkel.
Levou
o SYRISA à vitória nas eleições gregas de 25 de janeiro de 2015, obtendo 36%
dos votos e garantindo 149 dos 300 lugares no parlamento.
Foi
nomeado primeiro-ministro. No decurso da primeira reunião do seu gabinete,
expôs as suas prioridades para o governo da Grécia: combater o desemprego e a
crise humanitária, negociar com a União Europeia e o Fundo Monetário
Internacional a reestruturação da dívida grega e cumprir as promessas
eleitorais do SYRISA, incluindo o fim das privatizações.
Passemos para Espanha. Pablo Iglésias é escritor,
professor universitário e apresentador de televisão. Usa, emblematicamente, o
cabelo comprido seguro na nuca com uma fita e tem-se mostrado capaz de
mobilizar o descontentamento de boa parte do eleitorado espanhol. O seu partido
está a crescer e ninguém sabe onde irá parar. Poderá, contudo, acompanhar o
destino do SYRIZA, em quem boa parte da esquerda europeia depositou a sua
esperança.
Aparentemente,
a crise económica fez-se sentir com maior intensidade em Portugal do que em
Espanha e seria de esperar uma evolução política semelhante.
Onde
é que estão o SYRISA português e o seu Tsipras?
Terá ocorrido dedo demais a eclosão de um líder carismático na esquerda portuguesa.
Francisco Louçã, economista de grande prestígio, coordenou o Bloco de Esquerda
de 2005 a 2012. Ao longo desse tempo, apresentou no Parlamento uma série
considerável de projectos inovadores, obtendo mesmo a aprovação de uns tantos.
O
Bloco de Esquerda conseguiu eleger oito deputados nas legislativas de fevereiro
de 2005. No mesmo ano, Louçã foi nomeado porta-voz da comissão Política do
Bloco. Nas eleições legislativas de setembro de 2009, o BE aumentou para 16 o
número de deputados eleitos, tornando-se na 4ª força política do país.
A
euforia não iria durar muito. Nas eleições legislativas de 2011, o Bloco de
Esquerda viu reduzir para metade a sua representação parlamentar. As
divergências internas acentuaram-se. No ano seguinte, Francisco Louçã
abandonaria a liderança. Aparentemente, os seus sucessores não souberam tirar
partido das condições políticas extremamente favoráveis ao desenvolvimento de
soluções políticas alternativas.
O
“Barómetro Eurosondagem” de meados de maio de 2015 mostra as intenções de voto
no Partido Socialista um pouco à frente da coligação PSD/CDS. A CDU anda pelos
10 % e o Bloco de Esquerda não chega aos 5%. O PDR de Marinho Pinto ronda os
2,5 %, enquanto o Livre fica abaixo dos 2%.
Se
olharmos para as sondagens da Aximage da mesma altura, veremos equilibradas as
intenções de voto no PS e na coligação que está no governo. A CDU ronda os 7,7
% das intenções de voto, enquanto o Bloco de Esquerda ultrapassa ligeiramente
os 4 %. O Livre/ Tempo de Avançar alcançaria 2% dos votos e o partido de
Marinho Pinto teria pouco mais de 2,5. As conclusões são fáceis de tomar: os
portugueses desconfiam dos resultados das mudanças políticas bruscas e, ainda
que com a fé reduzida, continuam a acreditar mais nos partidos tradicionais.
Louçã
fará 60 anos em 2016. A evolução da situação política europeia poderá não
esperar pelo surgimento de um novo líder carismático na esquerda portuguesa. Entre
nós, o necessário “arejamento” do sistema político-partidário corre o risco de ficar
adiado para as calendas gregas.
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