MORREU O PASCOAL
Morreu José Vilhena.
Acabou-se o Pascoal!
A minha geração aguardava alegremente as edições sucessivas dos
magníficos desenhos de Vilhena. Volta e meia, os livros eram apreendidos.
Ao tempo, a proibição era uma forma de publicidade. A polícia
política (PIDE) era muito menos eficiente do que se imagina hoje. Os volumes
ilustrados acabavam por chegar a quem os queria ver. O autor acabou (quase) por
se familiarizar com os calabouços da ditadura.
Mais tarde, José Vilhena caricaturizou de forma notável as
figuras políticas do regime democrático. Desconheço os números, mas atrevo-me a
supor que as edições da “Gaiola Aberta” terão alcançado as tiragens mais elevadas
de todas as publicações impressas em Portugal.
Passou o tempo e todos envelhecemos. Hoje, em véspera de eleições, até a Democracia mostra um ou outro sinal de senescência.
Tenho saudades do Pascoal. Era um homem de olhar libidinoso
que apreciava a generosa anatomia feminina com a triste certeza de não ser capaz
de a alcançar. A Bíblia bem dizia: não cobiceis a mulher do próximo! Falava em vão. Atrevo-me
a pensar que há um pouco do Pascoal no fundo de cada um de nós.
Morreu José Vilhena. Um pouco da graça que pairava por aí abandonou o mundo.
Apresento à família, e em especial ao meu amigo Professor Fonseca
Ferreira, as minhas condolências.
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