VALÉRIO GUERRA
NÃO SÓ DE MIM
Há um tempo incontado e encantado, o pai do Valério e do Nelson tinha um estabelecimento comercial ao lado da minha casa, na Praça da Colónia, em Sá da Bandeira.
O Nelson era da minha idade e já partiu. O Valério era ainda menino quando fui estudar para Coimbra.
Encontrámo-nos mais tarde, nas reuniões dos maconginos e ficámos amigos. Esclareço que o “Reino de Maconge” é um grupo de saudosos do Planalto Africano. Teve origem nos antigos estudantes do Liceu Diogo Cão, mas foi-se tornando mais abrangente.
O Valério publica agora o seu primeiro livro de poemas. Na verdade, é mais do que um livro. Trata-se de uma compilação de 9 títulos escritos e sonhados ao longo dos anos. Os leitores terão oportunidade de testemunhar o carinho e a saudade com que enfeita cada verso.
Deixo aqui pequenas amostras, procurando semear o gosto de ler mais.
Eu, que pingos de chuva arremedo,
quando penso nos andrajosos à intempérie,
pergunto-me, havendo, qual é o segredo?
Leio para não estar só
e para saber de mim
por palavras alheias.
Acorda o dia
e acordo eu
e volta a pergunta:
« Hoje, o que darei à vida
que me justifique?!»
Que silêncios escutarei
que me acordem da letargia
de andar por andar
e de ver por ver
e de ouvir e calar?!