quarta-feira, 20 de novembro de 2024
PRIMEIRO ARTIGO DA MINHA NETA LEONOR NUMA REVISTA INTERNACIONAL DE DIREITO
segunda-feira, 30 de setembro de 2024
DISTINÇÕES
A 15 de setembro, dia de Bocage e da cidade, o município de Setúbal atribuiu-me uma Medalha de Honra, na classe de Ciência e Tecnologia.
Fico grato pela distinção.
Tempos atrás, a Academia de Letras de Trás-os-Montes tinha-me nomeado Sócio Honorário. O mesmo fez, mais recentemente, a Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos.
Agradeço as honrarias.
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024
Philip C. Jessup International
Law Court Competition
A minha neta Leonor foi sempre uma menina brilhante. Está
agora a fazer o mestrado de Direito na Universidade de Leiden, na Holanda. Escolheu-o
porque o considerava o melhor da Europa, na sua área. Após ter representado
Leiden nas rondas nacionais holandesas (cada equipa universitária é composta
por cinco elementos), foi selecionada
para integrar um dos dois grupos que vão
representar os Países Baixos na competição de Jessup. O outro é o da Universidade de Maastricht .
Trata-se do maior e mais prestigiado certame de julgamentos simulados de todo o mundo e tem lugar em Washington.
Irá decorrer entre 30 de março e 6 de abril. A organização suporta as despesas de deslocação e alojamento. Irão participar no evento 700 Faculdades de Direito de cerca de 100 países.
Portugal estará também representado. Em 2023, a representação portuguesa esteve a cargo da Universidade Católica que levou a melhor sobre a Universidade Nova e a Clássica na fase nacional da competição.
Este ano serão abordados problemas que dizem
respeito a traidores e a burlões e levantadas questões relacionadas como o
direito à expressão política, ao expatriamento, ao direito a uma nacionalidade
e ao papel do Conselho de Segurança da ONU na resolução pacífica de disputas.
Neste tipo de certames ( a meu ver) ser selecionado
para participar é já um prémio de grande
valor.
Nunca pensei que um neto ou neta minha viesse a ser
internacional… pela Holanda!
segunda-feira, 6 de novembro de 2023
OS DIAS DO VENTO SUL
Foi
com agrado e também com certo orgulho que colaborei na apresentação do livro
“Os dias do vento Sul”, da autoria do meu colega e amigo Jorge Seabra, que foi
galardoado pela segunda vez com o Prémio de Romance da SOPEAM.
Quem
conhece os livros do autor entenderá facilmente o agrado, mas poderá
surpreender-se pela manifestação de orgulho por uma obra que não é minha.
Não é
minha, mas provem da mesma grande casa simbólica: A República “Kimbo dos
Sobas”, em Coimbra. Todos bebemos da mesma fonte.
Estivemos
lá em alturas diferentes – apesar do cabelo branco, o Jorge é mais novo do que
eu.
A
nossa casa era alheia à praxe coimbrã e só aceitou oficializar-se como
“República” para ter assento no Conselho das Repúblicas que iria influenciar
pela positiva as sucessivas crises académicas em que uma parte considerável da
jovem intelectualidade portuguesa contestou a Ditadura e a guerra colonial.
Empenhava-se no combate ao colonialismo, na modernização da sociedade
portuguesa, no estabelecimento da Democracia e no estreitamento das relações
com o conjunto das nações europeias das quais nos separava, geográfica e
ideologicamente a Espanha fascista.
O
Kimbo foi fundado por estudantes provenientes de Angola. Durante vários anos, além
dos angolanos apenas foram ali aceites os são-tomenses, que, por brincadeira
eram considerados naturais de mais uma província de Angola. Depois, foram
entrando jovens de cá.
É
notável o percurso de muita gente que ali se juntou e cresceu
intelectualmente.
De um grupo pouco organizado de
estudantes, quase todos com origem ou vivência africana, saíram um
primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, dois generais das FAPLA (um deles foi
também ministro do governo angolano), um capitão de Abril, um dos engenheiros
portugueses mais reconhecidos aquém e além-fronteiras, nove escritores com obra
publicada, um cineasta e dois mártires. Como acabamos de ouvir da boca do Pedro
Miguéis, saiu também um dos fundadores da Ortopedia Infantil em Portugal.
Próximo, ainda que nunca tenha
vivido no Kimbo, andou também o meu amigo Gilberto Teixeira da Silva, o
celebrado comandante Gica das FAPLA. Foi ele quem se encarregou de me abrir os
olhos para a política no longínquo ano de 1961.
Parece extraordinário, para um grupo
que nunca foi numeroso.
Vou citar apenas os escritores.
Além do Jorge Seabra e do Trabulo, escreveram e publicaram livros o Manuel Rui
( o mais conhecido de todos nós), o Álvaro Fernandes, o Ireneu Cruz, o
António Faria, o Albertino Bragança, o
Fernando Martinho e o China. Não sei porquê, tenho a sensação de me
estar a esquecer de alguém. Que me perdoe. Será o peso dos anos…
O livro “Os Dias do Vento Sul” constitui uma obra extensa e complexa. Assenta,
em parte, numa estrutura policial, mas ultrapassa largamente os limites da
investigação de crimes e expõe em pormenor alguns aspetos sórdidos que parecem
constituir subprodutos tóxicos dos modelos de acumulação de capital vigentes no
chamado “mundo ocidental”.
Jorge
Seabra dá espaço no seu livro a um episódio trágico, dos muitos que assinalaram
a II Grande Guerra. O Laconia, um paquete de 40.000 toneladas da Cunard Lines,
foi torpedeado por um submarino alemão no Atlântico Sul, quando seguia de Cape
Town para o Canadá. Quando o U-156 emergiu, deu com os sobreviventes
debatendo-se nas águas. Os marinheiros recolheram os náufragos que puderam e
pediram ajuda a dois outros submarinos alemães e a um italiano que navegavam
perto. Os passageiros do Laconia foram apinhados nas torres e nos conveses.
Pareciam estar a salvo, ainda que cheios de fome e de sede.
Ao
terceiro dia, o piloto de um bombardeiro americano avistou os submarinos e
bombardeou-os. Os submarinos imergiram, abandonando os náufragos. Poucos terão
sobrevivido. Entre eles, a imaginação do autor incluiu Henriqueta Lott e a sua
irmã Lora. Salvaram-se, mas nunca mais se voltaram a ver. Jorge Seabra trouxe a
Lora para a Figueira da Foz e casou-a com um pescador de bacalhau.
O
autor desenhou uma mão-cheia de personagens carismáticos que se vão
interrelacionando de forma que chega a surpreender e, mesmo, a abalar.
Bem,
não vou contar já o livro todo…
Os
meus parabéns ao Jorge Seabra!
quarta-feira, 18 de outubro de 2023
Esta é a última vez que organizo a Semana do Autor Médico, um acontecimento bienal que vai na quinta edição e promete continuar. Apresento o programa.
V SEMANA DO AUTOR MÉDICO 2023
21 a 28 de outubro
PROGRAMA
Dia 21- Sábado
10:00h – Sessão de abertura - Saudação do Bastonário da
Ordem dos Médicos Dr. Carlos Cortes
10:30h – Apresentação do livro de António Lourenço Marques
“A Biblioteca de António Lourenço Marques – livros proibidos e 1ªs edições
séculos XV, XVI, XVII, XVIII e XIX”; Vol. I - Palestra sobre organização de
bibliotecas “Como dar volta aos nossos livros”
12:00h – Inauguração da Exposição de Artes Plásticas e
Bibliográfica de Maximiano Lemos - acervos da Biblioteca da Ordem dos Médicos e
de António Lourenço Marques Livros de Autores Médicos
13:00h – Almoço 15:00h – Mesa-redonda sobre Maximiano Lemos.
Moderadora: Amélia Ricon Ferraz
Participantes: Tenente Coronel Médico Rui Pires de Carvalho
– “Maximiano Lemos-Médico Militar”;
Dra. Mariana Bernardo Nascimento - “ Páginas da Medicina
Legal na obra de Maximiano Lemos”;
Amélia Ricon Ferraz - “ O Legado médico-histórico de
Maximiano Lemos”.
17:00h – Evocação de Liliana Guerreiro in memoriam da Médica
Escritora e Artista. Apresentação do livro “Cuidados de Saúde” por Susana
Ribeiro e Herlandina Ribeiro
18:00h - Apresentação do Coro Aesculapides da Região Sul da
Ordem dos Médicos, dirigido pelo maestro Bruno Campos
Dia 23 –Segunda-feira
17:00h – Sessão de VideoArte por Júlio Pêgo
17:30h – Conferência por Cristina Moisão “Da Bombarda à
Espada- ferimentos e mortes em Álcacer Quibir”
18:00h – Apresentação do livro “Vento Sul”, de Jorge Seabra
por Pedro Miguéis e António Trabulo
Dia 24 – Terça-feira
17:00h – Apresentação do livro de Rui Melancia “Pelos
Caminhos da Poesia” por Pedro Miguéis.
17.45 - Conferência pelo Prof. José Manuel Mendes,
presidente da APE – Fernando Namora. Uma revisitação.
18.10 h - " A morte da cirurgia como ARTE ? " Reflexão ilustrada do Cirurgião Pediátrico e artista plástico Paollo Casela
Dia 25 – Quarta-feira
17:00h – Apresentação “Fernando Namora - o escritor
disfarçado na cidade” por Maria José Leal
17:30h - Apresentação do livro “O diário de bordo de Hope
Godsend” de Ana Ferreira Silva
Dia 26 – Quinta-feira
17:00h – Apresentação do livro “Eu servi no CEP” de Ana Ferreira Silva por Maria José Leal
17:30h – Apresentação
dos livros de Carlos Vieira Reis “50 Poemas de Amor, Angústia e Morte” e “Um
Rio de Vinho, Um Rio de Sangue”
Dia 27- Sexta-feira
17:00 – Palestra sobre “Os meus Livros de Contos” por
António Trabulo
17:30 – Apresentação do livro “No
Jardim... No Bosque... Na Savana... Na Floresta…”, de Maria José Leal por
Annabela Rita
Dia 28 – Sábado
10.00 - Apresentação do livro coletivo “Médicos nem
Deuses, nem Demónios” Homenagem a Fernando Namora - Tertúlia dos Autores.
O livro teve a colaboração
de: António Trabulo, Baltazar Caeiro,
Carlos Vieira Reis, Cristina Moisão, David de Morais, Fortuna Campos, Germano
de Sousa, Joaquim Barradas e Maria José Leal
11:30h – Apresentação do livro “Terra Velha”, de José
Sampaio por Luciano Marmelada 12:00h
13:00h – Almoço
15:00h – Mesa-redonda "As
Artes plásticas de hoje para amanhã " conversa entre os membros da mesa e
a assistência. Participação dos artistas médicos Teresa Oliveira, Ana Ferreira,
Pedro Miguéis, Júlio Pego.
16:30h – Nomeação de sócios Honorários da SOPEAM
sábado, 14 de outubro de 2023
ÁGUAS FURTADAS
Tenho livros espalhados por vários lugares.
Aqui
há umas semanas voltei ao Algarve e passei os olhos por uma estante, à procura
de um livro que me ajudasse a adormecer. A intenção falhou. Dei com este opúsculo de António
Barbedo, editado pelo Laboratório Bial. A ilustração é excelente e deve-se a
Carlos Magalhães.
A
publicação não tem data. Pelo aspeto da fotografia do autor, será dos primeiros anos
deste século.
António
Barbedo é médico psiquiatra. Começou a publicar poesia em 1978. Tem diversos livros
publicados e colaborou em algumas antologias. Recebeu, em 1983, o Prémio
António Patrício da Sociedade Portuguesa de Escritores Médicos. (Penso que, na
altura, os Artistas Médicos ainda continuavam fora da Associação).
Tive
o prazer de o conhecer em anos recentes, em reuniões da SOPEAM. Deu-me a honra
de apresentar um livro meu.
A
escrita do livrinho é cuidada, contida e concisa. O bom-gosto do poeta está bem
à vista.
Deixo
aqui um dos poemas do opúsculo. Escolhi “Grafite”, mas poderia ter optado por
qualquer um dos outros.
Grafite
Esboça um tronco
e apaga o desenho, volta
a riscar a raspar incessantemente
até que da árvore
resta apenas a própria sombra.
Da folha
guarda a textura quase transparente
o esfoliar da rasura
a lâmina húmida do X-acto.
Ocultar para conhecer.
Não assinar.
NOS CONFINS DA NOSSA LÍNGUA
Já não
leio tanto como dantes. Por necessidade da escrita, habituei-me a fazer
consultas – ia dizendo a estudar - em vez de me dedicar à leitura recreativa.
Calhou
há dias retirar duma das estantes dois livros há muito abandonados e porventura
nunca abertos: OS MELHORES CONTOS DE
OITOCENTOS, da Esfera do Caos, que contem obras de Alexandre Herculano,
Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão e VELHAS ESTÓRIAS
de José Luandino Vieira, publicado pela União dos Escritores Angolanos. Ora, em
vez de pegar num volume e o ler até ao fim, como fazem os leitores sensatos,
deu-me para ler à vez um conto de Herculano e outro de Luandino.
O
contraste não poderia ser maior.
Herculano dedica-se a fazer incursões pelo nosso passado histórico e alimenta em parte os seus escritos com a recriação de velhas lendas perdidas no pó dos séculos. Recolhe vocábulos há muito esquecidos e enfeita com eles a sua prosa.
Negócio grave, por certo, o fez sair a tais desoras da crasta da sua Sé.
Luandino escreve de uma maneira muito própria. Transcreve para os textos a linguagem popular dos meninos dos bairros pobres da Luanda onde cresceu ( o escritor nasceu em Portugal mas foi para Angola com três anos de idade), o que torna fácil tropeçar na sua linguagem.
Mais velho cospe ignorância deles, xacata seus passos de cágado sábio.
Herculano faz-se arcaico, para parecer mais ao jeito da época em que situa a narrativa:
À porta
do aguião, em Toledo, tem a mourisma um grande campo, todo mui bem apalancado. Ali fazem grandes festas, guinolas e touros
nos dias de seus perros santos, segundo lá lhos pregam e determinam catibes e
ulemás.
Luandino chega a registar algumas ideias em kimbundo, o que as faz incompreensíveis para a maioria dos leitores portugueses, e desconfio mesmo que se compraz em inventar palavras novas. A sua prosa está impregnada das expressões que vivenciou. A construção das frases esquece com frequência a tradição portuguesa e mergulha na oralidade vivida mesmo ao lado.
Bungulava, o mais velho? Se ouviam gungumes de bode, cada vez às noites, muitos que juravam fogueira do guarda acendia sem o pau de fósforos, tudo só magicaria.
Enuncia, de onde em onde, provérbios da sabedoria tradicional angolana:
Menina mania morreu nova, ngana prudência foi no óbito
Durante
alguns dias, fui navegando entre a Dama Pé de Cabra e Muadiê Gil, o
Sobral e o Barril e entre O Bispo Negro e Manana, Mariana,
Naninha. Tinha assim, ao alcance do braço, dois dos extremos da língua
portuguesa.
Conheci a escrita de Alexandre Herculano muito cedo, logo no princípio da puberdade. Eu era um leitor compulsivo e tinha em casa algumas estantes com livros. Ali perto, estava aberta a biblioteca da catedral do Lubango e, um pouco mais longe, podia dispor da do Liceu Diogo Cão. Cresci numa época em que poucos sonhavam com as tecnologias de agora. Na Angola do meu tempo, não existia televisão.
Tomei
conhecimento da existência de José Luandino Vieira pela mão do Fernando
Sabrosa, companheiro dos 1000-Y-onários, a república que ficava do outro lado
da nossa ( Kimbo dos Sobas), na rua Antero de Quental, em Coimbra. O Sabrosa assumira a missão de
distribuir o Luuanda pela malta. Seria por volta de 1964. Depois,
durante alguns anos, quase não voltei a ouvir falar do autor. Soube apenas que
tinha sido preso pela polícia política e que conhecera várias prisões de Luanda
antes de ser enviado para o Tarrafal, em Cabo Verde, onde passaria oito anos. Aliás,
Luandino passou em calabouços muitos dos anos em que a vida de um escritor é
mais fértil e produtiva.
Anos
mais tarde, soube que a Linda, a sua primeira esposa, casara em segundas
núpcias com o Mário, irmão de dois amigos meus muito chegados.
Em
1965, a Sociedade Portuguesa de Escritores atribuiu a José Luandino Vieira o
Grande Prémio de Novela, pela sua obra Luuanda. A honraria determinou a
extinção daquela associação de escritores pela censura fascista.
No ano
de 1972, Luandino saiu em liberdade condicional e domiciliou-se em Lisboa, sob
vigilância policial.
Após o
25 de Abril, regressou a Angola. O MPLA
reconheceu o seu valor e o seu passado de sacrifício e nomeou-o diretor do
Departamento de Orientação Revolucionária. Foi ainda diretor da Televisão
Popular de Angola e, depois, do Instituto Angolano de Cinema.
No
entanto, Angola mudara e ele também. Em 1992, regressou a Portugal, onde
nascera e foi viver para uma zona rural do Minho, perto de vila Nova de
Cerveira. A razão próxima da desistência da causa de uma vida terá sido o reinício
da guerra civil angolana. Outros motivos haverá, mas o escritor calou-os.
No ano
de 2006, foi-lhe atribuído o Prémio Camões. Para espanto de muitos, recusou a
maior honraria da literatura de língua portuguesa. O prémio tinha um valor pecuniário de
100.000 euros e Luandino vivia pobremente. Diria mais tarde que o recusara por se
considerar um escritor morto e que o galardão deveria ser atribuído a alguém
mais ativo nas letras. No entanto, Luandino continuava a escrever e, ainda
nesse ano, publicou outros dois livros. Ninguém sabe o que lhe ia na alma.
Alexandre
Herculano nasceu em 1810 e faleceu em 1877. Está sepultado no Mosteiro dos
Jerónimos.
Luandino
Vieira conta 88 anos. Espero que viva mais uns tantos.