domingo, 3 de julho de 2016


AS VOZES NO MARFIM
IV
O marfim é constituinte dos dentes de diversos mamíferos, incluindo o homem. Sendo fácil de esculpir, foi usado para fabricar objetos de culto ou de adorno, desde a aurora da Humanidade. Dura muito mais do que a madeira e, como não se pode fundir, como acontece aos metais preciosos como o ouro ou a prata, é utilizado apenas uma vez. Perdura mais se for conservado em ambiente seco e não muito quente.
Chegaram até nós artefactos em marfim com mais de 20 milénios de existência. A representação realista mais antiga que se conhece de um rosto humano é a chamada Vénus de Brassempouy e foi esculpida em marfim de mamute. Atribui-lhe a idade de 25.000 anos.



Em Zaraysk, na Rússia, foi encontrada uma escultura de um bisonte que terá 20.000 anos e foi trabalhada no mesmo material.



Na Europa do centro e do norte, os artefactos de marfim eram confecionados em dentes de morsa, comerciados pelos vikings e pelos seus vizinhos. Conhecem-se cruzes  e peças de xadrez de marfim de morsa talhadas pelos anglo-saxões no sec. XI d.C.

Peça de xadrez anglo-saxónica

Alguns povos ilhéus, como o açoriano, trabalharam, até há poucas décadas, dentes de cachalote.



O marfim foi utilizado por quase todas as civilizações conhecidas.
Há exemplares de esculturas em marfim de elefante e hipopótamo, produzidas no Egito há cerca de 5500 anos.
As primeiras estatuetas gregas em marfim remontam ao século VIII a. C. Como na Grécia não havia elefantes, os escultores helenistas combinaram-no outros materiais. O lendário escultor Phidias (488-431 a.C.) trabalhou o marfim, juntamente com o ouro.

                        Painel fenício em marfim
Pouco nos chegou do que os gregos trabalharam. Existem, contudo, várias placas dos últimos tempos de Roma, geralmente pertencentes a dípticos.
Conhecem-se diversas esculturas bizantinas em marfim, como este triunfo de um imperador (provavelmente Justiniano), conhecido como o díptico Barberini, exibido no Museu do Louvre. O nome provém do cardeal Francesco Barberini, a quem pertenceu.

Triunfo do imperador

Os indianos tinham elefantes e usaram-no como material de escultura desde há 4.000 anos. Também o transaccionaram com chineses e japoneses.

"Santuário" Dashavtar


O marfim prestou-se de forma notável aos padrões geométricos complexos produzidos pelas civilizações islamizadas. Como os povos muçulmanos prosperaram durante um milénio e dominaram largas parcelas de África e da Ásia, chegaram até aos nossos dias muitas peças de marfim com origem na escultura árabe.

Painel árabe (Alhambra)

Na Europa, durante a Idade Média, a peça mais importante produzida em marfim foi provavelmente o trono de Maximianus, bispo de Ravena (546-556).



Até ao século XIX, o marfim que chegava à Europa era pouco e dispendioso. A partir do final do século XVIII, com a ocupação do interior da África subsaariana, os elefantes quase desapareceram de várias regiões do continente. 

Imagens: todas as imagens publicadas exceto o dente trabalhado de cachalote, que me pertence, foram retiradas da Internet.

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