domingo, 3 de julho de 2016


AS VOZES NO MARFIM
III

                       Estes meus elefantes,
                          a subirem a montanha da desgraça…
                          O maléfico vai e pensa ficar.
                          Vou dar a volta ao embondeiro,
                          parirei gémeos…

        (Fragmento duma canção da região de Luanda)


Os artistas africanos sempre gostaram de retratar animais. Nas esculturas em marfim (note-se que falo apenas das que conheço e que nem são assim tantas) são representados peixes, repteis, pássaros e uma grande variedade de mamíferos. 



    
Os artífices esculpem o que conhecem. Terão visto, vivos ou mortos, os objetos do seu trabalho. De outro modo as imagens conseguidas não seriam tão fieis. 



Será de esperar que os escultores de peixes, jacarés e hipopótamos vivam à beira da água e que os que figuram dromedários habitem na parte norte do continente.



No entanto, pelo menos no que me foi dado ver, há uma clara preferência pelos elefantes. Não admira. São símbolos do poder, da força raramente agressiva, da autoconfiança e, quase, da invulnerabilidade. À exceção das crias pequenas, o seu único predador é o homem.



Aleixo Costa, um dos últimos grandes caçadores africanos registou no seu livro “África, homens e animais bravios”, um claro respeito pelos gigantes da selva. Escreveu ele, ou quem quer que fosse que o ajudou a compor o livro: a verdade é que o leão não é nem nunca foi o rei dos animais bravios. Essa realeza pertence ao elefante.


A estreiteza relativa dos dentes de elefante ajusta-os mal à face humana. Por essa razão, e também pela fragilidade, as máscaras são feitas em madeira, geralmente leve. O marfim é reservado a certo tipo de estatuária. O perfil dos dentes presta-se à repetição dos temas, com dimensões crescentes ou decrescentes.




Sem comentários:

Enviar um comentário