quarta-feira, 14 de junho de 2017



ESQUERDA E DIREITA

II

Os partidos comunistas desapareceram praticamente dos quadros políticos das nações europeias. O Partido Comunista Português é um sobrevivente. Em grande parte graças ao carisma e à inteligência de Álvaro Cunhal, logrou manter a sua base de apoio nos sindicatos de transportes e em muitos concelhos alentejanos. A prática autárquica honesta e eficaz colou-se à sua nova imagem de marca.

Militei vagamente no PCP durante um ou dois anos, após o 25 de Abril. Nos tempos da velha senhora, recebera na minha casa do Beco da Carqueja, em Coimbra, algumas reuniões de célula, sem participar nelas.
O mundo modificava-se e os comunistas não. Repetiu-se comigo algo que se tinha passado meia vida antes. Sem resposta para as questões religiosas, tornei-me ateu sozinho, aos quinze anos, numa cidade em que toda a gente que eu conhecia era mais ou menos religiosa. Face ao PCP, não senti a mesma solidão. Éramos vários os que compartilhávamos as críticas e a ausência de perspetivas. Aguardávamos uma mudança que não chegava e, pior, a que não éramos capazes de desenhar os contornos desejáveis.
Afastei-me do Partido, mas deixei lá amigos. Não é preciso concordar com as pessoas para as respeitar. 



Depois, tenho votado ou aqui, ou ali, mas sempre à chamada Esquerda. Devo referir uma exceção clara. Votei em Marcelo Rebelo de Sousa. Foi o único candidato presidencial que manifestou, ao longo da vida, interesse pela Cultura. 
Ainda não encontrei um partido político com cujo ideário me sinta confortável. Entre um candidato presidencial esquerdista inculto, e um alinhado ao centro que tenha prazer em ler, o meu voto, se não ficar em branco (como já aconteceu) há de escorregar para a Direita.

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