sexta-feira, 3 de abril de 2015


      NECROFILIA NA LITERATURA PORTUGUESA

                     FIALHO DE ALMEIDA

   
A necrofilia é um padrão desviante do comportamento sexual em que a excitação é desencadeada pela visão de cadáveres ou pelo contacto com eles. 
Conhecem-se diversos casos em que os autores recorreram a descrições de necrofilia para chamarem a atenção dos leitores para as suas obras. Um dos mais emblemáticos será o poema "O noivado do Sepulcro" de Soares dos Passos. Quem não se lembra de:

                    "Vai alta a lua!Na mansão da morte
                      Já media noite com vagar soou..."


Quer Fialho de Almeida, quer Camilo Castelo Branco produziram obras literárias que tiveram a necrofilia por tema. Neste artigo, vou falar de Fialho.


Conheço «A Ruiva», de Fialho de Almeida, desde os meus catorze ou quinze anos. Por essa altura, eu lia tudo o que encontrava. O meu pai tinha a sua obra. Li a toda a coleção de «Os gatos» e a seguir, li "Os contos".  Lembro-me de ter achado «A Ruiva» uma narrativa erótica.
Fialho de Almeida ainda foi contemporâneo de Camilo. Nasceu quando Camilo Castelo Branco ia nos 32 anos e sobreviveu-lhe dezanove.


Fialho conhecia Camilo e apreciava-o. Dedicou-lhe os seus «Contos», com termos muito elogiosos.


Andava à procura da “Ruiva” de Fialho e encontrei a de Renoir. Descobri, por acaso, que o pintor Pierre Renoir era pai do realizador de cinema Jean Renoir. Andrée Hessling, aqui retratada, usou também usou o nome de Catarina. Foi o último modelo do pai e a primeira atriz dos filmes do filho, que se casou com ela.


Voltei a ler «A Ruiva», desta vez na Internet. Encontra-se digitalizada e disponível gratuitamente, no sítio da Biblioteca Nacional e, pelo menos, noutro endereço eletrónico. É fácil de descarregar para o computador pessoal.
No conto de Fialho, a necrófila é Carolina, a Ruiva, filha do coveiro e órfã de mãe. Ainda virgem – e passo a citar Fialho:
“Nas horas de calor, de verão, quando sob os ciprestes os empregados do cemitério dormiam, ia devagarinho, sem ser pressentida, à casa dos depósitos, escolhia os cadáveres dos moços, dos belos, se os havia, e como um pequeno vampiro sequioso entreabria as mortalhas, despregando com uma navalhinha as camisas; metia a mão devagarinho pelo peito, metia, escorregando-a ao longo das carnes, beliscando-as levemente, com prazer”.
E a história, que é mais novela do que conto, vai de desgraça em desgraça. O autor obriga o coveiro enterrar a própria filha. O texto acaba com o narrador a olhar a caveira da ruiva Carolina, em cima da sua banca de contista médico.
 Não foram atribuídas a Fialho de Almeida tendências sexuais desviantes. 



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