sexta-feira, 14 de junho de 2013

        

                 AMÍLCAR CABRAL


                         LVII

      HONÓRIO BARRETO – UM GUINEENSE INVULGAR

   O mais conhecido dos naturais da Guiné-Bissau é seguramente Amílcar Cabral. Honório Barreto vem logo a seguir. Ambos tiveram pais cabo-verdianos. 
     Filho de mãe guineense, Honório nasceu em Cacheu em 1813, cento e onze anos antes de Cabral. Comerciante e grande proprietário de terras, foi por três vezes nomeado Administrador da Guiné. Ocupou, por períodos consideráveis de tempo, esse lugar político, o mais importante da Guiné portuguesa.
No começo do século XIX, a França e a Inglaterra instalaram-se na África Equatorial. Os franceses pretendiam incluir nas suas colónias a região centrada em Bissau. Os ingleses queriam ficar com a ilha de Bolama, o arquipélago dos Bijagós, Buba e o litoral costeiro.
Barreto defendeu com firmeza e sagacidade as fronteiras do território que governava. Sem ele, a Guiné-Bissau seria hoje bem menor ou inexistente. Reconstruiu Bolama, meio destruída pelos incêndios ateados pelos ingleses. Enfrentou a cobiça estrangeira e conseguiu, umas vezes lutando e outras comprando terrenos, preservar várias parcelas do território. É graças aos seus esforços que Bolama pertence hoje à Guiné-Bissau.
O diferendo entre Portugal e a Inglaterra foi sujeito à arbitragem do Presidente dos EUA, Ulysses Grant, que, em 1970, decidiu a questão a favor dos portugueses. As negociações com a França conduziram, em Maio de 1886, à delimitação das fronteiras entre a Guiné então portuguesa e a África Ocidental Francesa. Barreto morrera há mais de vinte anos. Conhecia bem a sua terra e opôs-se tenazmente à troca de Casamança por Quitafine (Cacine, sul da Guiné). Casamança, a norte, era uma região muito rica. Integra hoje a República do Senegal. 
Barreto não renegou as suas origens mas assumiu-se como um português da Guiné. Foi Provedor de Cacheu e Capitão- Mor de Cacheu e de Bissau. Em 1853, bateu-se valentemente contra os papeis e, três anos mais tarde, conduziu a campanha contra os «nagos». Na chefia do território, reformou a administração e desenvolveu agricultura, o comércio, a instrução e a saúde.
O seu valor foi reconhecido pelo governo de Lisboa. Honório Barreto foi promovido a Tenente-Coronel de Artilharia de segunda linha e condecorado com os graus de Comendador da Ordem Militar de Cristo e de Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada. Faleceu em Bissau em 1859. É o melhor exemplo conhecido de “assimilação”. Nenhum outro nativo do Império Português recebeu tantas honrarias.
A história corre e os pontos de vista modificam-se. Os guineenses de hoje valorizam mais o lado escuro da sua vida. A verdade é que, numa época em que Portugal abolira já oficialmente a escravatura, Barreto mantinha em Cacheu um lucrativo comércio de escravos.

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