domingo, 26 de maio de 2013


                                 AMÍLCAR CABRAL

                                          XLIII
                                            
                EVOLUÇÃO POLÍTICA INTERNACIONAL
                                 (DÉCADA DE 40)


Em 1941, Franklin Roosevelt e Winston Churchill encontraram-se  num navio de guerra, na costa da Terra Nova, e estabeleceram alguns acordos. Deles fazia parte o compromisso das duas nações respeitarem os direitos dos povos colonizados a escolherem formas próprias de governo. Churchill saberia que estava a aceitar o fim do Império Britânico.
O milenar Império Turco caíra no escaldo da I Grande Guerra. Era a vez de a Inglaterra abandonar as várias possessões ultramarinas que detinha há séculos. Havia uma diferença abismal entre os dois processos: a Turquia tinha perdido a sua guerra, enquanto o Reino Unido alinharia ao lado dos vencedores. No final do conflito, a Alemanha foi batida, mas a Inglaterra ficou reduzida, de forma provavelmente definitiva, a um estatuto de potência mediana.
A queda do Império Britânico levou a uma reação em cadeia. Franceses, holandeses, e belgas foram sendo forçados a libertar as colónias. Era a embriaguez das independências. Portugal resistiu mais tempo, mas teve de aceitar o mesmo destino.
O espaço deixado vago foi rapidamente preenchido. A Rússia construiu o seu próprio império, que se iria desmoronar em poucas décadas. Os Estados Unidos da América prescindiram da questão das soberanias. Dominam atualmente o mundo, controlando as economias. Veem porém despertar no oriente o gigante chinês, bem mais tradicional do que a América no que concerne ao exercício de formas de poder.
A partir do fim da guerra, multiplicaram-se os congressos e as declarações oficiais em favor da libertação dos povos colonizados. Os movimentos pan-africanistas empenharam-se em campanhas internacionais visando a emancipação dos povos de África. Logo em abril de 1945, a Federação Pan-Africana organizou um grande congresso em Londres. Dele saiu um “manifesto” dirigido à Conferência da Sociedade das Nações, então reunida em S. Francisco. Portugal e a Espanha eram condenados pelos seus regimes autoritários e pela inflexibilidade das suas políticas africanas.
O momento revelou-se oportuno. Da Conferência nasceu a Carta das Nações Unidas, a organização que vinha substituir a ineficaz Sociedade das Nações. A ONU começou, de imediato, a pressionar os países colonizadores para que facilitassem a independência das colónias. Uma mudança pontual na Carta acabada de publicar aconselhava que se desenvolvessem “relações amigáveis baseadas no princípio da igualdade de direitos dos povos e do direito de disporem de si próprios”.
No outono de 1945 reuniu em Manchester a V Conferência Pan-Africana. A independência das colónias europeias em África foi sonoramente reclamada por representantes de variados estados africanos. No ano seguinte, a Assembleia-geral das Nações Unidas apelou às potências colonizadoras no sentido de promoverem a criação de instituições políticas livres nos territórios que administravam, de forma a possibilitarem a evolução progressiva para governos autónomos.
Os convites às independências eram claros. Igualmente clara resulta a ideia de que partiram essencialmente de fora para dentro. A nova ordem mundial punha de lado os velhos senhores da África e da Ásia. Os nacionalismos desenvolveram-se ou, pelo menos, estruturaram-se. As comunicações tinham-se tornado fáceis e a informação circulava como nunca, na história da humanidade. Enquanto os militares africanos e asiáticos que se tinham batido na Europa regressavam às suas terras, crescia o número de estudantes africanos nas universidades europeias.
Os países mais desenvolvidos dispunham também de elites coloniais mais esclarecidas. Nasceu um grande número de organizações políticas nacionalistas nas colónias inglesas e francesas. Ainda em 1945, foi fundado o Secretariado Nacional da África Ocidental (SNAO), liderado por Kwame Nkrumah. Tinha por missão coordenar os diversos movimentos nacionalistas da região. No ano seguinte, nasceu em Bamako (Mali) outra organização pan-africana, apoiada pelo Partido Comunista Francês. Intitulava-se Rassemblement Démocratique Africaine (RDA), e pretendia enquadrar várias organizações independentistas francófonas.
A Organização das Nações Unidas esteve sempre na linha dianteira de combate ao colonialismo. Em 1948, aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que reconhecia aos povos colonizados o direito à autodeterminação.



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