quinta-feira, 30 de maio de 2013

                                       
                                       AMÍLCAR CABRAL

                              XLVI

            MOVIMENTAÇÃO DAS GENTES




O censo português de 1970 contou 487.448 habitantes na Guiné-Bissau. Eram menos 32 mil almas que dez anos atrás.
Durante a década não ocorreram grandes epidemias no território. Não consta que a guerra tenha provocado razias de tamanha proporção entre os civis. Assim, a redução populacional traduz, por um lado, a impossibilidade de os censores trabalharem nas zonas controladas pelos guerrilheiros e, por outro, a fuga de muita gente para os países limítrofes. 
    A região senegalesa de Casamanse acolheu a maioria dos refugiados de guerra. O seu número cresceu de cerca de 45 mil em 1965 para perto de 82 mil em 1971. Ao mesmo tempo, os centros urbanos viram o número dos seus habitantes subir significativamente. As pessoas fugiam das zonas de conflito.
O movimento de abandono das áreas rurais prejudicava a guerrilha, que via reduzir o escudo humano e o apoio alimentar. Cabral deu instruções aos seus homens para tentarem impedir a fuga das populações das regiões controladas, fustigadas pelos bombardeamentos. Proibiu a saída de gado e impôs outras medidas coercivas.
A propaganda desempenha um papel importante nas guerras modernas. Em abril de 1965, Amílcar Cabral anunciava publicamente em Londres que o seu partido controlava cerca de 350 mil guineenses. Representariam mais de setenta por cento do total da população. No entanto, mesmo sabendo-se que nem todos os cidadãos são eleitores, o número oficial de inscritos no interior do território para votarem, em 1972, para a primeira Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau, foi de 83 mil. Estes dados são do PAIGC.
A divergência é clara. Resultará, em boa parte, da guerra dos números devida às necessidades da propaganda, com a tendência para o exagero que se verifica, por exemplo, na estimativa das baixas do inimigo. 
      Poderão ser apontadas mais causas para a discrepância numérica. Uma delas será a definição de “áreas controladas”. Em termos militares, o controlo é muitas vezes relativo. Lembremos o mapa colorido traçado no tempo de Spínola para representar o território guineense. Existiam as áreas azuis, sob domínio português, onde crescia o número de “aldeias estratégicas” que contribuía para a concentração das populações. As áreas controladas pelo “inimigo” estavam representadas a vermelho e eram de bombardeamento livre. Entre umas e outras, havia extensas regiões pintadas de amarelo, que nenhuma das forças em luta controlava.
   Com altos e baixos, a situação foi-se modificando progressivamente a favor da revolução. Nas áreas “libertadas”, os embriões de governação autónoma começaram a desenvolver-se entre 1965 e 1966.



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