sexta-feira, 2 de outubro de 2009






O PASTOR DE ICEBERGS


Muito tempo depois de a neve ter tombado,
o pastor de icebergs
abriu o redil.

Trotou sobre o mar um rebanho de gelo.
Dentes brancos ceifaram a erva da bruma,
os navios rangeram, assustados,
e, dos Corte Real, nenhum voltou.


Aqui nasceu, talvez, Adamastor,
ao sul das catedrais dos deuses cegos,
a oeste de todas as preces conhecidas.
Não se aprende a morrer devagar!


Encenador da Primavera,
afaga ainda as coxas dos fiords!
Que os actores se apresentem!


Faz gemer no roçar dos icebergs
a solidão, o silêncio,
o chicote longo do frio,
o cinzento infindo do mar
e, depois, o vento e a espuma,
a varrer os sonhos simples dos navegantes:


volver à terra morna
de vinho e mulheres doces.

Sem comentários:

Enviar um comentário